1 No Vale das Trevas, delirava a legião de Espíritos infelizes. Rixas, obscenidades, doestos, baldões. Planejavam-se assaltos, maquinavam-se crimes.
2 O Espírito Benfeitor penetrou a caverna, apaziguando e abençoando…
Aqui, abraçava um desventurado, apartando-o da malta, de modo a entregá-lo, mais tarde, a equipes socorristas; mais adiante, aliviava com suave magnetismo a cabeça atormentada de entidades em desvario…
3 O serviço assistencial seguia difícil, quando enfurecido mandante da crueldade, ao descobri-lo, se aquietou em súbita acalmia e, impondo respeitosa serenidade à chusma de loucos, declinou-lhe a nobre condição. Que os companheiros rebelados se acomodassem, deixando livre passagem àquele que reconhecia por missionário do bem.
4 — Conheces-me? — Interrogou o recém-chegado, entre espantado e agradecido.
— Sim, — disse o rude empreiteiro da sombra, — eu era um doente na Terra e curaste meu corpo que a moléstia desfigurava. Lembro-me perfeitamente de teu cuidado ao lavar-me as feridas…
5 Os circunstantes entraram na conversação de improviso e um deles, de dura carranca, apontou o visitador e clamou para o amigo:
— Que mais te fez este homem no mundo para que sejamos forçados à deferência?
— Deu-me teto e agasalho.
6 Outro inquiriu:
— Que mais?
— Supriu minha casa de pão e roupa, libertando-nos, a mim e a família, da nudez e da fome…
7 Outro ainda perguntou com ironia:
— Mais nada?
— Muitas vezes, dividia comigo o que trazia na bolsa, entregando-me abençoado dinheiro para que a penúria não me arrasasse…
8 Estabelecido o silêncio, o Espírito Benfeitor, encorajado pelo que ouvia, indagou com humildade:
— Meu irmão, nada fiz senão cumprir o dever que a fraternidade me impunha; entretanto, se te mostras tão generoso para comigo, em tuas manifestações de reconhecimento e de amor que reconheço não merecer, porque te entregas, assim, à obsessão e à delinquência?!…
9 O interpelado pareceu sensibilizar-se, meneou tristemente a cabeça e explicou:
— Em verdade, és bom e amparaste a minha vida, mas não me ensinaste a viver!…
10 Espíritas, irmãos! Cultivemos a divulgação da Doutrina Renovadora que nos esclarece e reúne! Com o pão do corpo, estendamos a luz da alma que nos habilite a aprender e compreender, raciocinar e servir.
Irmão X
(Humberto de Campos)