1 Pergunta-me você, alma querida,
A fim de conversar com os amigos ateus:
Na grandeza da vida,
Como explicar onde está Deus?
2 Noto a limitação que me assinala,
Observo-lhe a bela candidez,
E indago, dentro em mim, ao coração sem fala:
O que dirá você de minha pequenez?…
3 Revolvo, enternecida, as faixas da lembrança,
A mover-me nas asas da alegria…
Penso em Deus, todo amor, qual o fazia
No tempo de criança…
4 Escuto novamente o sabiá trinando
E interrogo, de espírito encantado:
Quem senão Deus lhe haverá ensinado
O gorjeio a espalhar-se, doce e brando?
5 E as borboletas matizando cores,
Dançando, à brisa, com desembaraço,
Num formoso balé sobre o palco de flores,
Obedecendo a Deus que as sustenta no Espaço?
6 Quem terá ideado a formação dos ninhos,
Assegurando apoio aos passarinhos?
7 Inda hoje na fé que me incendeia
O coração na luta, entre agir e esperar,
Sinto traços de Deus na imensidão do mar,
Ternamente abraçando a humildade da areia…
8 Percebo o Grande Ser que nos dirige e ama,
Desde o esplendor solar ao veludo da grama.
Do tronco alçado aos céus à folha que se inclina,
Em tudo, há previsão da Bondade Divina.
9 Depois do temporal agressivo e violento,
Deus entoa canções nos coqueirais ao vento…
E o quadro em que, a meu ver, o Pai se mostra com mais brilho
É o regaço de mãe, amamentando um filho!…
10 Onde está Deus? Nos caminhos da vida,
Eis a questão que alguém te proporá;
— E poderá você, alma querida,
Perguntar, levantando a fronte erguida:
— “Onde Deus não está?”
Maria Dolores
|