1 Espiritismo — doutrina renovadora. Codificada por Allan Kardec, sob a égide do Senhor, teve os seus princípios e medianeiros experimentados no laboratório, examinados no gabinete e discutidos na praça pública.
2 É impossível efetuar-lhe o inventário de preciosas realizações em vinte lustros de atividade.
3 Revelou pela demonstração positiva a sobrevivência do ser além da morte.
4 Fez-se o pálio de imarcescíveis consolações para a humanidade.
5 Descerrou as realidades da reencarnação, trazendo sentido novo às questões do destino.
6 Abriu novos horizontes à glória do Espírito.
7 Baseou a fraternidade nos alicerces da razão pura.
8 E reconstruiu o santuário da fé viva que o dogmatismo religioso havia transformado em deserto.
9 Entretanto não será lícito arrear-lhe o lábaro augusto com atitudes exteriores.
10 É imperioso que, à feição de seus vexilários humildes, nos arregimentemos para a obra da luz e do amor, abraçando não apenas os nossos compromissos no culto tradicional.
11 É indispensável a movimentação de nossos valores para que a sua influência divina se estenda a todos os que nos cercam.
12 A lavoura do coração e do cérebro reclama esforço ingente. 13 Caridade por disciplina. 14 Educação por dever. 15 Virtude e conhecimento. 16 Benemerência e instrução.
17 Sem dúvida, achamo-nos muito longe do amor que brilha na auréola dos santos e do fulgor intelectual que ornamenta a fronte dos sábios.
18 Contudo é preciso começar a sublimação como quem começa a existência.
19 Diz-nos o Senhor na bênção da Escritura:
— “Misericórdia quero e não sacrifício.” ( † ) n
20 E o Espírito da Verdade, na Codificação de Kardec, afirma convincente:
— “Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensino. Instrui-vos, eis o segundo.” ( † )
21 Urge, assim, que a nossa beneficência não se expresse tão-só na doação daquele supérfluo de que nos desvencilhamos com enfado, e que a nossa cultura doutrinária não se limite a mera repetição de fórmulas verbalistas.
22 Erguer orfanatos, sim, com vistas à infância que o abandono injuria, mas chamar ao calor da própria alma a criança infeliz do lar subnutrido que viceja, mirrado, ao pé de nosso jardim doméstico.
23 Edificar, indiscutivelmente, sanatórios e retiros para a saúde e refazimento do enfermo que padece na via pública, no entanto não desprezar o doente que, em sua pobreza oculta, sofre em silêncio a prova que regenera.
24 Materializar, decididamente, institutos e escolas que formem, com valor, na extinção da treva, todavia ofertar a lâmpada do alfabeto ou o socorro de um livro nobre ao companheiro que viaja na sombra da ignorância ou do desespero.
25 Todos somos calcetas à frente da justiça divina. Todos, porém, detemos valiosos recursos para ajudar no apostolado da libertação uns dos outros.
26 O auxílio que ninguém pede é a chave milagrosa do auxílio de que todos necessitamos.
27 Multipliquemos os nossos potenciais de trabalho renovador, retirando-nos de nós mesmos ao encontro do irmão que passa.
28 Embora sejamos almas detidas nas grades da Lei, para justas reparações, ainda assim é possível fazer muito.
29 Jesus, o Senhor, veio da magnificência divina, buscando, com discrição e bondade, as chagas de nossa imensa miséria para leni-las com bálsamo salutar.
30 Reconfortou-nos e instruiu-nos, tolerou-nos e curou-nos, sem condenar a incompreensão com que lhe preparamos a cruz.
31 De posse, hoje, dos tesouros eternos do Espiritismo, saibamos, desse modo, esposar como nosso dever puro e simples o culto da assistência fraterna e o serviço da educação. n
Emmanuel
Reformador — Janeiro de 1958.
[1] Nota de Reformador: “Essa frase, em Mateus 9.13 e 12.7, na tradução para o Esperanto, em vez de “Misericórdia” diz “Beneficência”, isto é, “Mi deziras bonfaradon, sed ne oferon”.
[2] Segundo consta do original, a mensagem foi recebida em 17/11/1957. Não há referência de local.