1 O quadro é lindo e imponente
Na calma da Natureza,
A massa d’água é mais bela,
Mais suave a correnteza.
2 O rio enorme extravasa,
Conquistando as cercanias,
Encaminha-se às baixadas,
Desce às furnas mais sombrias.
3 A torrente dilatada
Estende a dominação,
Refresca e fecunda o solo
Nas zonas de plantação.
4 Mas, em haurir-lhe a grandeza,
Os bens, a virtude, a essência,
Precisa-se em toda parte
Muita luta e previdência.
5 Aterros, diques, cuidados,
Trabalhos e sacrifícios,
Todo esforço é necessário
Por colher-lhe os benefícios.
6 Sem isso, reduz-se a enchente
Às grandes devastações,
Ameaças, lodo e vermes,
Mosquitos, flagelações.
7 A abundância generosa
Foi vista e considerada;
Entretanto, a imprevidência
Guarda a lama envenenada.
8 Reconhecendo a beleza
Deste símbolo profundo,
Podemos ver no seu quadro
Muita gente deste mundo.
9 O poder, a autoridade,
A fortuna, a inteligência,
São enchentes dadivosas
Da Divina Providência.
10 Mas, se o homem não vigia,
É várzea que inspira dó.
A abundância não lhe deixa
Mais que lodo, lixo e pó.
Casimiro Cunha
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