1 Em marcha laboriosa,
No sulco amplo e sombrio,
Profundo e silencioso
Eis que passa o grande rio.
2 Ao seu seio dadivoso,
Afluem fontes da serra,
Ribeiros de níveis altos,
Detritos de toda terra.
3 O rio mais elevado
Desce os montes à procura
De sua paz generosa
Na marcha calma e segura.
4 Por saber harmonizar-se
Nos bens do mais baixo nível,
Conserva toda a imponência
Da grandeza indefinível.
5 Faz caminhos gigantescos,
Cria povos eminentes,
É ele quem leva ao mar
As águas dos continentes.
6 É pai das economias
De todo o humano labor,
Mas quase ninguém se lembra
Dessa dívida de amor.
7 Que importa, porém? O mundo
É o homem que esquece e cai,
Sem ver a missão do bem,
Nas bênçãos do próprio Pai.
8 O grande rio conhece
A luz desse imenso arcano,
Sobre o nível mais humilde
Busca a força do oceano.
9 Assim também a alma grande,
Nas últimas posições,
Recebe as ânsias de paz
De todos os corações.
10 Em dores silenciosas,
É o grande rio que vai,
Dando o bem a todo o mundo,
Em busca do amor do Pai.
Casimiro Cunha
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