1 Dentre todas as paisagens,
Talvez a mais bela e estranha,
É aquela que se observa
Na solidão da montanha.
2 Dura e estéril muitas vezes,
Deserta, triste, empedrada,
A montanha nos parece
A terra amaldiçoada.
3 Entre as rochas do seu corpo,
Florescem cardos somente;
Flores rudes e espinhosas
Da soledade inclemente.
4 Seus píncaros elevados,
Na figura da paisagem,
Chamam somente a atenção
Do espírito de coragem.
5 Comparada ao movimento
Do vale em relva macia,
Fornece a impressão penosa
Da aridez e da agonia.
6 Entretanto, em todo tempo,
É a sua força que encerra
O amparo caricioso
Aos vales de toda a Terra.
7 Sem sua dureza agreste,
Repleta de solidão,
As planícies morreriam
Por falta de proteção.
8 É ela a mão silenciosa
Da energia que produz;
No seu cume nunca há sombras,
Seu dia inteiro é de luz.
9 No mundo, as almas do amor,
Mais sábias, mais elevadas,
São montanhas que parecem
Estéreis e desprezadas.
10 Todavia, é o sacrifício,
De sua desolação,
Que sustenta em toda a vida
Os vales da evolução.
Casimiro Cunha
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