1 Quem segue ao sol calcinante,
Com sede desesperada,
Rende graças ao Senhor
Achando um poço na estrada..
2 O quadro agreste, por vezes,
Não tem abrigo nem fonte,
Raras árvores se alinham,
Perdendo-se no horizonte.
3 Em meio à desolação,
Entre o calor e a secura,
A cisterna dadivosa,
Guarda a bênção da água pura.
4 Há poços de toda idade,
Bem calçados, mal assentes,
Mais rasos e mais profundos,
Em dimensões diferentes.
5 No seu íntimo, entretanto,
Trazem todos a água amiga
Que socorre aos que sucumbem
De desânimo e fadiga.
6 Quem tem sede se aproxima
Com cuidado e gratidão,
E dispensa ao poço humilde
Sempre a máxima atenção.
7 Lançando o copo ansioso
Sem notar os sacrifícios,
Evita a poeira ou o lodo
Que anulem os benefícios.
8 E sorve esse orvalho santo
Que vem da terra imperfeita,
Com o júbilo generoso
De uma oração satisfeita.
9 No mundo, o mesmo acontece:
Nas agruras do caminho,
Cada qual pode apelar
Às posses do seu vizinho.
10 Mas, se agita a lama em torno,
Como quem fere e escabuja,
O poço, apesar de bom,
Só pode dar-lhe água suja.
Casimiro Cunha
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