O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Correio do Além — Familiares diversos


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Carlos Alberto dos Santos Dias

Carlos Alberto dos Santos Dias voltava de um jantar com amigos em São Lourenço, Minas Gerais, na noite de 19 de junho de 1981 quando seu automóvel bateu de encontro a uma árvore, na região de Pouso Alto, ocasionando sua passagem para o Plano Espiritual. Nascido no dia 1º de abril de 1958, este jovem de 23 anos, filho de Adelaide e Antero dos Santos Dias, estudante de engenharia (Fac. Eng. S. Paulo), enviou mensagens à sua família, reconfortando-os e relatando sua experiência.


DEPOIMENTO


“Não éramos espíritas, mas recorremos ao irmão Chico Xavier à procura de consolo. Minha esposa, muito católica, relutou a princípio. Porém, foi um encontro maravilhoso. Após o recebimento destas mensagens de nosso filho, nossa perspectiva da vida transformou-se. Frequentamos o Evangelho de Lar na casa dos amigos Wilson e Chiquinha Dellalio, pais do jovem Eduardo, (Cap. 4) e mantemos contato constante com Uberaba.”


Antero dos Santos Dias


PRIMEIRA MENSAGEM


1 Querida mamãe Adelaide e querido papai Antero, peço-lhes me abençoem. 2 Que a morte é uma sombra ilusória, está claro com a minha presença aqui.

3 Estávamos tão acomodados com nossa conversação que o Maurício n e eu nos sentimos atropelados pelo tronco vigoroso, que nos estragou o corpo e a máquina inevitavelmente.

4 Trocamos de caminho pela inexperiência da região mas, no fundo, penso eu que a nossa promissória com a desencarnação estava no sítio em que fomos parar e não no lugar que nos seria próprio.

5 Dedicados amigos nos recolheram, com certeza informados de que seria ali o nosso ponto de encontro.

6 Acho que o acontecimento foi grande demais para ser descrito. Se uma bomba nos fulminasse, a meu ver, o nosso espanto não seria tão grande.

7 Quis socorrer o Bassi, n mas onde a energia para isso? Não dispunha de forças senão para uns restos de pensamentos que dediquei à oração, pedindo a proteção de Deus.

8 Tive a ideia que minha vida era uma vela acesa que se apagava devagarinho, sem que me fosse possível reavivar a chama.

9 Refleti nos pais queridos, em nossos Arnaldo e Antero Júnior n mas tudo se me abateu na memória qual se me visse num sonho, sem acreditar na realidade. 10 Dormi pesadamente e creio que muito tempo depois acordei na casa de apoio espiritual que me pareceu um pouso de emergência para acidentados. 11 Chamei pela família com a exigência de um cliente que se reconhecia com retaguarda forte para saldar qualquer débito, quando foi com surpresa a aparição da criatura afetuosa que me atendeu com paciência.

12 Declarou-me ser a vovó Maria n e, pela inflexão doce daquela voz, notei que ela parecia ignorar a agressividade de minhas reclamações.

13 Vim a saber que a realidade não era o sonho que mentalizara de começo.

14 Consciente de minha situação nova, passei a viver com o choro da mãezinha Adelaide e com as exclamações dos nossos familiares queridos.

15 Tenho procurado tomar pé em minha travessia de uma existência para outra e assim busco me adaptar aos deveres que me cabem aceitar.

16 A estação de águas ficara longe e tudo que fora meu, ou supostamente meu, já não mais me pertence e rogo aos pais queridos me auxiliarem com atitudes e ideias que me fortaleçam.

17 Ainda não tenho disposição para falar como seria de desejar, porque os meus grilos por enquanto não são poucos mas, de qualquer modo, estou me sentindo aliviado com a possibilidade de comunicar-lhes estas minhas impressões.

18 Peço para que me sintam forte e calmo para vermos se esse exercício pode me conferir a energia e a serenidade de que ainda estou carente e abracem aos irmãos por mim.

19 Mãezinha e querido papai, desculpem se lhes falo com a insegurança que ainda me caracteriza; sei que vou melhorar e esbanjarei as boas notícias. Creio que a informação de que permaneço vivo é uma dessas pintas felizes do noticiário.

20 Lutando mas vivendo, restaurando-me mas seguro de mim mesmo, recebam os dois um beijão do filho muito agradecido


Carlos Alberto dos Santos Dias

(Beto)

2 de outubro de 1981.


SEGUNDA MENSAGEM


1 Querida mãezinha Adelaide e querido papai Antero, insisti sem desistir, na solicitação de uma ponta de tempo em que lhes possa trazer alguma notícia e aqui estou com o meu reconhecimento pelas lembranças do aniversário. 2 A nota real no assunto é que nos acanhamos de comentar festas, mesmo íntimas, sob o cerco das provas e lutas que nos rodeiam.

3 Creiam que não me esqueci e aproveito o ensejo para afirmar-lhes, extensivamente aos que nos ouvem, que a morte é um primeiro de abril bem bolado.

4 Quando a criatura pensa que dorme e descansa, ei-la que se ergue, pressionada pelas realidades da vida a fim de agir e servir em ritmo mais ligeiro para que a inércia não nos anestesie a atenção. 5 Alguém perguntou o motivo pelo qual o Maurício n e eu fomos encontrados pela terrível visita ou fomos nós encontrá-la em caminho trocado, quando não deveríamos distanciar de rota no traçado de nossa viagem… Indagação esquisita, porque os chamados mortos fomos nós dois e não quem nos questiona.

6 Penso, porém, nas várias pessoas reunidas aqui recordando entes queridos que se reconheceram transladados de um Plano de vida para outro Plano de existência e lembro-me de pequena história que possui alto sabor de verdade na significação com que se apresenta:

7 Conta-se que certo rapaz recebeu um aviso da morte que lhe anunciava o momento certo em que o buscaria na fazenda paterna. Assustado, o moço que demonstrava muito aprumo na presença pessoal, resolveu escapulir.

8 Antes do dia aprazado se desfez da barba que lhe imprimia mais aprumo e mais elegância, trocou o traje habitual vestindo-se pobremente e, descalço, demandou pequeno sítio de um amigo no qual se pôs a carpir o solo, à feição de um assalariado qualquer. 9 Na data previamente anunciada, retirou-se mais cedo para o campo dando duro para mostrar-se cansado e suarento.

10 No instante marcado, porém, a morte lhe apareceu e indagou sobre um rapaz finamente barbeado que devia estar justamente por ali segundo informações que recolhera. 11 O rapaz, aparentando uma serenidade que estava longe de sustentar por dentro, respondeu cortesmente que não conhecia ali ninguém nas condições que a ceifadora de vidas mencionava e acrescentou que ali se encontrava ele apenas, manejando a enxada com que se dispunha a conquistar o pão de cada dia; 12 mas a morte, conquanto aparentasse igualmente de que ouvia a verdade, afagou-lhe o ombro e explicou: — Está bem, meu rapaz, já que não encontrei quem me devia atenção e presença, julgo prudente levar comigo você mesmo.

13 E o moço, sem qualquer reclamação, foi compelido a se descartar do próprio corpo na hora a fim de seguir-lhe a direção, pisando-lhe no próprio rastro a caminho do mundo diferente que não poderia enganar.


14 Aí fica a minha resposta a quem pergunte porque teria encontrado o fim de minha curta existência em estrada que não me fora indicada ao percurso.

15 Se esta história serve, pode a nossa palavra simples consolar os corações saudosos que interpelam a vida quanto às razões da desencarnação imprevista dos amados.

16 E com isso, envio as minhas lembranças ao Dilé e ao Arnaldo. n O Maurício, em nossa companhia, se faz lembrado aos queridos pais com um sorriso de felicidade pelo nosso reencontro. A vovó Maria Pereira n e o vô Manoel n lhes deixaram saudações repletas de afetuosas saudades e eu, a lembrar e a esquecer o natalício que passou, rogo à mãezinha Adelaide e ao papai Antero receberem muitos beijos do filho agradecido


Carlos Alberto dos Santos Dias

(Beto)

17 de abril de 1982.


TERCEIRA MENSAGEM


1 Queridos pais Antero e Adelaide abençoem-me. Aqui é apenas um bilhete para expressar-lhes os meus votos de felizes Bodas de Prata.

2 Venho com o Maurício n e outros amigos unicamente para explicar-lhes que não estou esquecido.

3 Um grande abraço aos irmãos, com muitas lembranças especiais ao nosso querido Dilé. n Um apelido é sempre uma forma de esperar a identificação da gente e por isso fico nessa.

4 Muitas saudades e abrações do filhote que não se esquece do ninho.


Carlos Alberto dos Santos Dias

(Beto)

10 de setembro de 1982.


NOTAS


1 — Maurício José Bassi — amigo desencarnado no mesmo acidente.

2 — Arnaldo e Antero Jr. — Arnaldo dos Santos Dias e Antero dos Santos Dias Júnior (Dilé), irmãos.

3 — Maria Pereira — bisavó materna.

4 — Manoel dos Santos Dias — avô materno.


Beatriz L. P. Galves


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