O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Cartas do Coração — Autores diversos — 1ª Parte


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O dom divino

1 Antigo devoto, extremamente apaixonado pelo Senhor, mantinha consigo o velho desejo de encontrá-lo, afagá-lo e ser-lhe útil.

2 “Oh! se pudesse viver na intimidade do Mestre!” — pensava em êxtase — “tudo faria por rodeá-lo de cooperação e carinho…”

3 Por isso mesmo buscava cultivar todas as virtudes e aperfeiçoar todas as qualidades nobres, a fim de oferecer-lhe dons perfeitos.

4 Entre esperanças e orações, seguia a esteira infinita do tempo, aguardando o instante sublime de identificar-se com Jesus, quando, num sonho prodigioso, viu que o Senhor o visitava, acompanhado de sublime cortejo. 5 O carro fulgurante do Rei do Mundo vinha ladeado de Arcanjos e Tronos, ostentando flores e estrelas do Paraíso.

6 Maravilhado, o crente demandou o interior da casa, procurando as joias com que pretendia mimosear o Divino Amigo.

7 Não encontrou, porém, o ouro e a prata, as rosas e os perfumes, com os quais esperava render-lhe culto. 8 Em lugar deles, no entanto, reparou, espantado, que as suas virtudes se haviam materializado em vasos simbólicos.  9 Tentou escolher dentre eles alguma preciosidade com que pudesse atender ao próprio coração, mas notou que o seu amor estava representado por uma candeia sem óleo, que a sua paciência era um prato fendido, que a sua fé exprimia-se numa ânfora enlameada, que a sua caridade era um jarro vistoso e vazio e outras virtudes como, por exemplo, a humildade e o entendimento fraterno, nem chegavam a aparecer…

10 Desapontado e pesaroso por não haver encontrado algum recurso, de modo a satisfazer-se, o devoto reconheceu que não passava de miserável mendigo, incapaz de uma oferta condigna ao Visitante Celestial.

11 Quis fugir, escondendo a própria indigência, todavia, surpreendido pelo Mestre que o abraçava, bondoso, clamou em lágrimas:

— Eterno Benfeitor, perdoa-me a pobreza! Nada tenho para expressar-te o meu carinho!… Minhas virtudes não passam de baixelas desprezíveis…

12 Jesus contemplou as alfaias expostas, sorriu e falou, sereno:

— Realmente, as qualidades edificantes que o Reino do Todo-Poderoso espera de nós revelam-se em construção, no terreno de tua alma. É imprescindível que o tempo te aprimore os talentos imortais. 13 Entretanto, trazes contigo o dom divino oculto em todas as criaturas. É por ele que a Obra de Deus se aperfeiçoa na Terra. Usando-o, podes colaborar comigo em toda parte, santificando-te, cada vez mais, para a glória do paraíso.

14 E por que o discípulo indagasse, entre aflito e jubiloso, o Mestre completou:

— É o dom de servir, indistintamente. Ajuda-me a velar pelos homens, pela vida, pela natureza… Auxilia comigo ao ignorante e ao doente, ao velho e à criancinha, ao animal e à erva tenra. A qualquer criatura ou a qualquer coisa que ofereças o bem é a mim mesmo que o fazes…

15 O devoto quis falar, traduzindo a imensa ventura que lhe banhava a alma toda, ante a lição recebida, mas, ao murmúrio do vento, que parecia chamá-lo ao trabalho, fora do aconchego doméstico, despertou no leito macio e começou a pensar.


Irmão X

(Humberto de Campos)

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