1 Recorda que a tua noite é a continuação do teu dia.
2 Repousado o veículo denso — o corpo a que te junges — o viajor, que és tu mesmo, prossegue na romagem constante das horas.
3 E não te faltarão companheiros na sombra, a copiarem perfeitamente os companheiros que preferes perante a luz.
4 Se malbaratas o tempo em conversações infelizes, decerto avançarás, treva a dentro, intoxicando a ti mesmo com o verbo envenenador.
5 Se te comprazes no vício, cerradas as janelas da visão na carruagem carnal, identificarás, junto de ti, quantos se alimentam à mesa do vampirismo.
6 Se te confias à cólera e à agressividade, tão logo te retires do campo físico partilharás o pesadelo dos que se nutrem de ódio e perseguição.
7 Se te agrada a ideia de enfermidade, em cujas teias te conformas, sem qualquer resistência, em favor do trabalho que te redimiria a imaginação, assim que te afastas do corpo, à influência do sono, entrarás na companhia deplorável de doentes do espírito, que fazem da inércia a sua razão de ser.
8 Vale-te do dia para criar valores novos e substanciais que te enriqueçam a vida.
9 Lembra-te de que nossos laços inferiores com o passado não jazem de todo extintos e numerosos desafetos de ontem nos espreitam a invigilância de hoje para reconduzir-nos a novas flagelações amanhã e quase todos aguardam a escuridão para multiplicar apelos delituosos e sugestões infelizes.
10 Saibamos conquistar a noite, aproveitando os recursos do dia para estender o bem, porque no símbolo do sol e da sombra temos a imagem de vida e da morte, dependendo de nós mesmos fazer da existência um cântico de beleza e harmonia, fraternidade e trabalho, para que o término de nossas tarefas represente abençoada renovação.
Emmanuel