1 Alma querida, às vezes te lamentas,
Vertendo pranto amargo às escondidas…
Sofres, na solidão, as horas lentas
De quem busca no arquivo das lembranças
Abrir de novo chagas esquecidas.
2 E padeces em vão e em vão te cansas,
Sob a angústia mortal com que te importas…
Mágoas passadas, lutas, cicatrizes,
Recordações de instantes infelizes
Nas quais te desconfortas.
3 Entretanto, alma boa,
Se alguém se te fez causa de amargura,
Segue à frente e perdoa…
Não te detenhas na clausura
Do pranto inútil que te desarvora.
4 Mesmo de coração alquebrado e sozinho
Procura compreender
Que além de cada noite no caminho
Haverá sempre um novo amanhecer.
5 Não tentes reaver
Os ídolos tombados sob o vento
Do desengano, erguido em sofrimento,
Que já varaste pela estrada afora.
6 Se a semente fugisse
De suportar a morte em seu próprio reduto,
Que seria da planta a levantar-se eleita?
E se a flor não caísse
Que seria do fruto
Destinado a manter a vida na colheita?
Se a fonte receasse
A pedreira de lâminas que a corta
E, às súbitas, parasse,
Todo campo traria sobre a face
Um charco de água morta.
7 Assim também, alma sempre querida,
Não te entregues à sombra e à solidão,
A fim de lastimar os desgostos da vida…
8 Segue adiante e verás!
Quanta gente a esperar-te o coração
Suplicando-te apoio, afeto e paz?!
Quantas almas lutando a esmolar-te esperança,
Quanta desolação, quanto lamento,
Quanta crença a tremer na insegurança,
Quanta angústia a rogar-te o alívio de um momento?!…
9 Alma fraterna, escuta,
Não desprezes a fé, nem desistas da luta,
Esquece-te e prossegue, ama, eleva e auxilia!…
10 Dor é bênção do Céu que nos conduz
A caminhar servindo, dia a dia…
Por ela encontrarás chorando de alegria
A grandeza do Amor na vitória da Luz!…
Maria Dolores
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