A desencarnação prematura do jovem Marcelo Antônio foi predita por ele mesmo, em muitas ocasiões, anos antes do fato.
Seus pais nunca valorizaram as palavras dele, nesse sentido, e só agora, após o acidente fatal de moto, vitimando Marcelo aos 16 anos, é que eles fazem, atendendo nosso pedido, uma análise retrospectiva da questão:
1. Ele sempre dizia que até 18 anos estaria morto, chegando a afirmar 4 vezes, em épocas diferentes: “Com 18 anos já estarei enterrado.”
2. Poucos meses antes do acidente, tirou o valor de sua Poupança para enfeitar a moto, alegando: “Quero aproveitar hoje. Amanhã não sei…”
3. Criador de pássaros desde 7 anos de idade, época em que se inscreveu na Associação de Canários, Marcelo afirmou pouco tempo antes do acidente, para surpresa da família: “Eu vou dar os meus pássaros para papai.”
4. Na festa de aniversário da priminha Karen, um mês antes do acidente, ao ser repreendido pela sua mãe por tomar cerveja com o tio Romualdo, Marcelo exclamou: “Tio, vamos beber porque vamos morrer mesmo!” Romualdo La Serra desencarnou em Campinas, SP, a 16 de julho de 1983, de acidente vascular cerebral, dois dias após o passamento do sobrinho.
A motivação desta análise nasceu do encontro de dois desenhos, feitos por Marcelo, num caderno escolar, provavelmente pouco tempo antes de sua desencarnação. Encontrados por sua mãe, meses após o grave acidente de moto, eles caracterizam clara premonição, pois mostram duas urnas funerárias com os respectivos nomes de Marcelo e de seu tio Romualdo.
Tal interpretação, feita pelos próprios pais, foi plenamente confirmada pelo Espírito de Marcelo, ao redigir sua segunda carta mediúnica, pela psicografia de Chico Xavier, aos familiares queridos.
Como vemos, o jovem motoqueiro foi beneficiado pela Misericórdia Divina, ao receber a bênção de pressentimentos corretos e valiosos, que também auxiliaram os progenitores, preparando seus corações para tudo aquilo que estava programado pelo Mais Alto, que é sempre o melhor para nós, com vistas à Evolução Espiritual.
Eis as elucidativas cartas de Marcelo:
1 Mãezinha Enide e querido papai Udine, n não esperem uma cantiga de lamentações. Tudo se passou naturalmente.
2 A moto e eu não tivemos tanta sorte como de outras vezes e a minha perícia enfim furada. Foi só isso.
3 Choque de cabeça, queda, contusões, escoriações e outros contratempos ficaram no corpo que um dia, afinal de contas, atingiria a própria limitação.
4 Decerto, que eu queria viver, mas isso não conta; nunca se faz tudo quanto se quer. 5 Embora as minhas gabolices de menino, aprendi isso tudo muito cedo. E, por isso me adaptei. n
6 Podem dizer ao Udine Júnior n que não há motivos para receios e frustrações. 7 Estou vivo, talvez mais vivo do que aí. Por isso, não desejo ver meu irmão e meu companheiro exposto a crises de nervosismo que eu, por mim próprio, nunca soube o que seja.
8 Imagino-me em casa, sempre para chegar a cada noite, mais corajoso e mais feliz, para abraçar as obrigações nossas.
9 E peço, mãe, para que ninguém culpe a moto, que sempre fez o que eu quis. É uma ingratidão ouvir tanta gente reprovando um veículo precioso, sem a menor ideia de lhe enumerarem os seus benefícios.
10 Vim para cá, para a Vida Espiritual, como um estudante se afasta, simplesmente porque recebera a papeleta de saída, n assim como anotação de colégio para que a gente regresse a casa.
11 Não estou muito bem, porque cheguei sem nenhuma preparação, mas também não estou mal, porque não me faltam bons amigos para o desdobramento do trabalho que é nosso.
12 Planos ainda não tenho, porque não sei o que há esperando por mim, e não me apresso a tomar conhecimento disso. 13 Os Instrutores sabem o que se fará, assim como sucedem aos capitães de barcos que conhecem as minúcias da rota de embarcação que comandam, enquanto resta aos marinheiros a satisfação de cumprirem os encargos recebidos.
14 De qualquer modo, estejam todos certos na família, especialmente as minhas irmãs, n de que estive aí a curto prazo e que prossigo desejando ser honesto com os encargos que assumo.
15 Não queria escrever-lhes uma carta de lágrimas. Choro por choro, já tivemos o maior no dia em que a gente se despediu, e os choros menores devem ser extintos no nascedouro, para que a paz nos acompanhe na união geral, que será o maior acontecimento para o futuro.
16 Esperemos o melhor, fazendo da vida um cântico à grandeza de Deus, que tudo nos concede em tamanho família: sol transbordante, chuvas quase de incalculável dimensão, mar grande e variado, rios imensos, árvores que resistem a todas as espoliações para se nos mostrarem na condição de escravas de nossos desejos. Digo isso para que ninguém me venha falar de crise.
17 Deus é bondade perfeita; de nossa parte, somos maus receptores, porque a nossa inércia no mundo não nos consente os grandes saques honestos de forças da natureza. Respiramos o mínimo de ar, quando nos seria lícito sorver os manjares aéreos a longos haustos. n
18 E assim vamos vendo. Bastar-nos-á querer e com algum trabalho, para não cairmos na moleza total, pois Deus já nos concede o super-suficiente para sermos felizes.
19 Queridos pais, é só isso. Penso, porém, que minhas pobres palavras, servirão para qualquer um.
20 Dizem-me que devo encerrar estar carta, o que faço agora, desejando a todos muita saúde e felicidade. Um grande abraço de filho, irmão, companheiro e colega, sempre grato
Marcelo Antônio n
NOTAS E IDENTIFICAÇÕES
1 — Carta psicografada pelo médium Francisco C. Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, Uberaba, MG, a 6/4/1984.
2 — Mãezinha Enide e papai Udine — Udine la Serra e Enide Loureiro La Serra, residentes em Campinas, SP, à Avenida Monte Castelo, nº 10, Bairro Jardim Proença.
3 — nunca se faz tudo quanto se quer. Embora as minhas gabolices de menino, aprendi isso tudo muito cedo. E, por isso me adaptei. — Segundo seus pais, Marcelo Antônio sempre revelou-se um “espírito maduro”, muito compreensivo, pois “tudo estava bem para ele”.
4 — Udine Júnior — Udine La Serra Júnior, irmão.
5 — Vim para cá, para a Vida Espiritual, (…) simplesmente porque recebera a papeleta de saída (…) estive aí a curto prazo — Trechos que confirmam suas premonições quando em vida material.
6 — Minhas irmãs — Márcia e Andréa.
7 — Respiramos o mínimo de ar, quando nos seria lícito sorver os manjares aéreos a longos haustos. — É oportuno lembrar que André Luiz também nos alerta sobre o valor do ar livre, em algumas de suas obras, tais como: Conduta Espírita, W. Vieira, FEB, Caps. 32 e 34; Os Mensageiros, F. C. Xavier, FEB, Cap. 41; Obreiros da Vida Eterna, F. C. Xavier, FEB, Cap. 5.
8 — Marcelo Antônio — Marcelo Antônio La Serra, nascido a 4/3/1967, desencarnou a 14/7/1983, em acidente de moto, na cidade de Campinas, SP. Cursava a 7ª série do Supletivo, no Ateneu Paulista.
1 Querida mãezinha Enide e querido papai Udine, peço-lhes a bênção.
2 Quero dizer-lhes que a vovó Maria Dorigon n vem me auxiliando como preciso e já me uni ao tio Romualdo para enfrentarmos, juntos, o caminho que nos aguardava efetivamente.
3 E os meus desenhos nasciam de minhas intuições que eu mesmo não sabia compreender; sentia, sem querer, que o tio Romualdo e eu estávamos renteando com a desencarnação; por isso é que tentei aquelas figuras que ficaram em meus cadernos.
4 A moto nada teve com isso, porque a minha máquina não se introduziria em meus pensamentos.
5 Aí está porque vão encontrando, aos poucos, os meus desenhos quase infantis, desenhos que me exteriorizavam as preocupações.
6 Muitas lembranças ao nosso Udine Júnior e às queridas irmãs Márcia e Andréa.
7 Para os meus queridos pais Udine e Enide, todo o coração do filho sempre grato,
Marcelo n
NOTA E IDENTIFICAÇÃO
9 — Psicografia de F. C. Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, Uberaba, a 13/10/1984.
10 — Vovó Maria Dorigon — Bisavó materna, desencarnada em Campinas, SP, a 21/7/1971.
Hércio Arantes