1 O homem desencarnado
Apareceu abatido…
Queria o nosso mentor
Para fazer-lhe um pedido.
2 O pobre recém-chegado,
Começou dizendo assim:
— “Ampare-me, nobre amigo,
Tenha piedade de mim…
3 “Sei que já fui afastado
De meu corpo deprimente,
Mas vivo de déu-em-déu
Vagando, constantemente.
4 “É que ando preso aos cuidados
De uma promessa que fiz,
Promessa que não paguei,
O que me faz infeliz.
5 “Fui rico… Tive fortuna,
Hoje invadida de herdeiros…
Mas fiquei devendo aos pobres
Setecentos mil cruzeiros.
6 “São pobres de Santo Antônio
Que os protege das Alturas…
Viúvas abandonadas
Em choças tristes e escuras…
7 “Que devo fazer agora,
Em meu remorso insistente,
Se meu dinheiro não vale
No câmbio aqui diferente?”
8 O mentor se resguardava,
Em silêncio singular,
E o homem continuou
Em lágrimas de pasmar…
9 Por fim, o mentor falou
Em voz amiga e pausada:
— “Meu amigo, sinto muito
A sua conta atrasada…
10 “Aquilo que se promete
À caridade de alguém
Tem força de promissória
Na Terra e no Mais Além…
11 “O Bem é negócio urgente,
Não se entristeça, entretanto,
Volte ao mundo, volte e sirva
Aos protegidos do Santo.”
12 — “E o meu débito, em dinheiro?
Necessito de ação pronta.
Posso assinar promissória,
A fim de pagar a conta?”
13 Disse o mentor: “Meu amigo,
Escute com atenção:
O seu resgate, em dinheiro,
Só em outra encarnação…”
Jair Presente
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