1 Amigo, você me pede
Para que o livre das crises,
Queixando-se amargamente
Dos momentos infelizes;
2 Diz haver chorado tanto
Que hoje é um pobre sofredor,
Arrastando a dura carga
De desenganos do amor.
3 Decerto, você julga em mim
Um companheiro eminente,
Mas sou apenas Jair,
O amigo Jair Presente;
4 Um pequeno servidor,
Procurando sem alarme,
Entre as pedreiras da vida
O processo de encontrar-me.
5 Você sabe: a evolução
Não aparece de estalo…
Sinceramente, não sei
O modo de consolá-lo.
6 Sabendo, porém, que a dor
É disciplina de lei,
Anoto para conversa
Um caso que acompanhei.
7 Junto a uma estrada de barro
Em que eu fazia ida e vinda,
Via sempre admirado
Uma cana nobre e linda.
8 Dava gosto vê-la enorme
A balançar-se no vento
E pensava: “o que seria
Do seu tronco suculento?”
9 Certo dia, veio um homem
E atacou-a de facão,
Depois, cortou-a aos pedaços
Sem que eu soubesse a razão.
10 Ao valente cortador
Que estava de boa veia,
Supliquei para segui-la
E, atônito, acompanhei-a.
11 Ela foi largada a um canto,
Depois, levada à moenda,
Foi triturada, de todo,
Para o açúcar na fazenda.
12 A cana altaneira e bela
Tinha um dever a cumprir:
Submeter-se à moenda
Para a missão de servir.
13 A vida é assim, meu caro,
Para ter o dom de amar,
Qualquer pessoa no mundo
Há de sofrer e chorar.
14 Se você chora, recorda
Que Deus cuidará de si.
Lembra o episódio da cana;
Amar é sempre isso aí.
Jair Presente
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