1 Quem deseja o dom da paz
Que auxilia e reconforta,
Ouça o conselho da vida:
— “Corta isso, corta, corta…”
2 É que a paz simples e viva
Para instalar-se na mente,
Nenhuma ilusão aceita,
E peso nenhum consente.
3 É por isso que cortar
Significa o dever
De buscar-se o necessário
E quanto ao resto: “esquecer”.
4 Olvida as rixas de casa;
A incompreensão do vizinho;
O amigo que se afastou;
Os entraves do caminho;
5 Qualquer desgosto passado;
A provação já vencida;
O parente atrapalhado;
A fala mal-entendida;
6 A camisa fuchicada;
O paletó sem botão;
A parede descascada;
O conserto do portão;
7 A poeira desatada;
A fogueira do sol quente;
O vento do temporal
Que desabou de repente;
8 O copo de jeribita;
O café antigo e morno;
O bolo queimado e cru;
Os desarranjos do forno;
9 As promessas de mandraca;
Qualquer serviço malfeito;
A condução atrasada;
A conversa sem proveito…
10 Se você procura paz,
Que o tranquilize, a contento,
Não carregue bagatelas
No campo do pensamento.
11 Por isso, é que a vida, quando
A nossa ideia se entorta,
Está sempre repetindo:
— “Corta isso, corta, corta!…”
Jair Presente
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