O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho — Humberto de Campos


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O Movimento Abolicionista

1 O Brasil prosseguia na sua marcha evolutiva, sob a carinhosa direção de D. Pedro II.  † 

Estadistas notáveis pelo seu amor à causa pública, assistiam os nobres afazeres do imperador, caracterizando as suas atitudes e as suas ações, dentro dos mais sagrados interesses pelo bem coletivo.

Haviam terminado os movimentos bélicos da guerra com o Paraguai  †  e o país voltava a respirar os ares da esperança.

Por essa época, e nos anos posteriores, todos os espíritos cultos da pátria se levantaram com desassombro, para amparar o movimento abolicionista.

2 Os gênios tutelares do Mundo Espiritual inspiravam a todos os políticos e escritores, e se havia fazendeiros que constituiam o mais sério sustentáculo da escravidão, dentro das classes conservadoras outros existiam, como inúmeros deles no Amazonas e no Ceará, que alforriavam os seus servidores, nos mais belos gestos de filantropia.

3 As falanges de Ismael  †  possuiam colaboradores determinados no movimento libertador, como Castro Alves,  †  Luiz Gama,  †  Rio Branco  †  e Patrocínio.  †  A própria princesa Isabel,  †  cujas tradições de nobreza e bondade jamais serão esquecidas no coração do Brasil, viera ao mundo com a sua tarefa definida no trabalho santificante da abolição. Os Espíritos em prova no cárcere da carne, se têm a sua bagagem de sofrimentos expiatórios e depuradores, têm igualmente a possibilidade necessária para o cumprimento de deveres meritórios, aos olhos misericordiosos do Altíssimo.

4 Todos os espíritos se inflamavam ao contato das grandes ideias de liberdade. Publicações e discursos, dentro da amplitude que a opinião da crítica conquistara nos tempos do Império, exortavam as classes conservadoras ao movimento de emancipação de todos os cativos.

5 D. Pedro se reconfortava com essas doutrinações das massas, no seu liberalismo e na sua bondade de filósofo. Desejaria antecipar-se às ações ideológicas, decretando a liberdade suprema de todos os escravos, mas os terríveis exemplos da guerra civil que ensanguentara os Estados Unidas da América do Norte durante longos anos, no movimento abolicionista, faziam-no recear a luta das multidões apaixonadas e delinquentes. Foi, assim, com especial agrado, que acompanhou a deliberação de sua filha, sancionando a Lei do Ventre Livre a 28 de setembro de 1871, que garantia no Brasil a extinção gradual do cativeiro, através de processos pacíficos. Seu grande coração, no círculo das suas impressões divinatórias, sentia que a abolição  †  se faria nos derradeiros anos do seu governo e, com efeito, a Lei do Ventre Livre  †  não bastara aos espíritos exaltados no sentimento de amor pela abolição completa. 6 Quase todas as energias intelectuais da nação se encontravam mobilizadas a serviço dos escravos sofredores. O ambiente geral era de perspectiva angustiosa e de profundas transições na ordem política. A ideia republicana consolidava-se cada vez mais no espírito da nacionalidade inteira. O bondoso imperador nunca lhe cortara os voos prodigiosos no coração das massas populares; aliás, alimentava-os com os seus alevantados exemplos de democracia.

7 Nos Espaços, Ismael e suas falanges procuravam orientar os movimentos republicanos e abolicionistas, com alta serenidade e esclarecida prudência, no propósito de evitar os abomináveis derramamentos de sangue, nos desvarios fratricidas.

Por essa época, possuía já Ismael a sua célula construtiva da obra do Evangelho no Brasil, célula que hoje projeta a sua luz da Federação Espírita Brasileira,  †  e de onde, espiritualmente, junto dos seus companheiros desvelados, procurava unir os homens na grandiosa tarefa da evangelização. 8 Esperando o ensejo de se fixar na instituição venerável que lhe guarda hoje as tradições e continua o seu santificado labor, ao lado das criaturas, a célula referida permanecia com Antônio Luiz Sayão  †  e Bittencourt Sampaio, desde 24 de setembro de 1885, até que Bezerra de Menezes com os seus elevados sacrifícios e indescritíveis devotamentos eliminasse as mais sérias divergências e aplainasse obstáculos, com as suas inesgotáveis reservas de paciência e de humildade, consolidando a Federação para que se formasse uma organização federativa. 9 Enquanto lá fora, muitos companheiros da caravana espiritual se deixavam levar por inovações e experiências fora dos preceitos evangélicos, o Grupo Ismael  †  esperava uma época de compreensão mais elevada e de mais harmonia para o desdobramento de suas preciosas atividades. Todavia, nas lutas pesadas do mundo, Bezerra de Menezes era o impávido desbravador, no seu apostolado de preparação, fraternizando com todos os grupos para conduzi-los, suavemente, à sombra da bandeira do grande emissário de Jesus.

10 Ismael trazia, então, a sua atenção carinhosa voltada para a solução do problema abolicionista, que deveria ser resolvido dentro da harmonia de todos os interesses e longe do sangue das guerras civis. Confiando ao Senhor as suas angustiosas expectativas, falou-lhe o Mestre brandamente:

— “Ismael, o sonho da liberdade de todos os cativos deverá ser concretizado agora, sem perda de tempo. Prepararás todos os corações, a fim de que as nuvens sanguinolentas não possam manchar o solo abençoado da região do Cruzeiro… Todos os emissários celestes deverão reunir esforços nesse propósito e, em breve, teremos a emancipação de todos os que sofrem os duros trabalhos do cativeiro na terra bendita do Brasil…”

11 O grande enviado redobrou suas atividades nos bastidores da política administrativa.

A estatística oficial de 1887 acusava a existência de mais de setecentos e vinte mil escravos em todo o país.  †  O ambiente geral era de apreensões em todas as classes, considerando-se a expectativa da promulgação da lei que extinguiria a escravidão para sempre, o que constituia um duro golpe na fortuna pública do Brasil. Mas, Ismael articula do Alto os elementos necessários à grande vitória. 12 O generoso imperador é afastado do trono nos primeiros meses de 1888, sob a influência dos Mentores Invisíveis da pátria, permanecendo a Regência com a princesa Isabel, que já havia sancionado a lei benéfica de 1871. Sob a inspiração do grande mensageiro do Divino Mestre, a princesa imperial encarrega o senador João Alfredo de organizar um novo ministério, o qual se compõe de espíritos nobilíssimos do tempo. 13 Os abolicionistas consideram a sua possibilidade maravilhosa e a 13 de maio de 1888 é apresentada à regente a proposta de lei  †  para a imediata extinção do cativeiro, que D. Isabel  †  cercada de entidades angélicas e misericordiosas sanciona, sem hesitar, com a nobre serenidade do seu coração de mulher.

13 Nesse dia inesquecível,  †  toda uma onda de claridades compassivas descia dos Céus sobre as vastidões do norte e do sul da pátria do Evangelho. Ao Rio de Janeiro afluem multidões de Seres Invisíveis, que se associam às gloriosas solenidades da abolição. Junto do espírito magnânimo da princesa, conserva-se Ismael com a bênção da sua generosa e doce alegria. Foi por isso que Patrocínio,  †  intuitivamente, no arrebatamento do seu júbilo, arrastou-se de joelhos até aos pés da princesa piedosa e cristã. Por toda a parte, espalharam-se alegrias contagiosas e comunicativas esperanças. O marco divino da liberdade dos cativos erguia-se na estrada da civilização brasileira, sem a maré incendiária da metralha e do sangue.

14 Os negros e os mestiços do Brasil sentiram no coração um prodigioso potencial de energias, n com que realizariam gloriosos feitos de trabalho e de heroísmo na edificação de todos os patrimônios da pátria do Evangelho, olhando o caminho infinito do futuro. E, nessa noite, enquanto se entoavam hosanas de amor no Grupo Ismael e a princesa imperial sentia, na sua grande alma, as comoções mais ternas e mais doces, os pobres e os sofredores recebendo a generosa dádiva do Céu, iam-se reunir, nas asas cariciosas do sono, aos seus companheiros da Imensidade, levando às Alturas o preito do seu reconhecimento a Jesus, que, na sua misericórdia infinita, lhes havia outorgado a carta de alforria, incorporando-os, para sempre, ao organismo social da pátria generosa dos seus sublimes ensinamentos.


Humberto de Campos

(Irmão X)

[1] [No original da 1ª edição desse livro — 1938: “o prodigioso potencial de energias da sub-raça,”]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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