1 Em carta, você pergunta,
Meu caro Alírio Trindade,
Como é que se desenvolve
O dom da mediunidade.
2 Você termina, indagando
Quanto ao nobre compromisso
Qual a maneira mais certa
De começar o serviço.
3 Ser médium, meu bom amigo,
Em qualquer tempo e lugar,
Pede atenção para o estudo
E gosto de trabalhar.
4 Na alegria do começo,
Qualquer irmão se equilibra,
Mas a tarefa depois
Precisa de muita fibra.
5 No assunto, quero contar-lhe
O caso de um companheiro,
Sei que você vai lembrá-lo:
É o nosso Quinquim Monteiro.
6 Quinquim curou-se num Centro
De uma dor no calcanhar,
Notando a força da prece,
Quis ser médium, trabalhar…
7 Iniciou-se, feliz,
No “Grupo do Irmão Carlindo,”
Mas a obra foi crescendo
E o trabalho foi subindo…
8 Muita gente em provação,
Muita amizade a sofrer,
“Servir e entender a todos”
Passara a simples dever.
9 A tarefa perdurava
Não se sabia até quando,
Quinquim começou nas falhas
E seguiu desanimando…
10 Nas noites de reuniões,
Não negava a própria fé,
Mas falava de fadiga,
De dor na nuca ou no pé.
11 Mostrava as pernas doendo,
Tinha angústia, batedeira,
Dizia sofrer de insônia,
Às vezes, por noite inteira.
12 Lastimava resfriados,
Inflamações do nariz,
Se alguém lhe pedia amparo,
Confessava-se infeliz.
13 Acusava-se vencido,
Estava sempre cansado,
Nas horas do reumatismo,
Padecia dor de lado.
14 Se alguém lhe falasse em preces,
Quinquim falava em descanso,
Era um retrato da queixa
Na cadeira de balanço.
15 Sempre a clamar contra a vida,
Sem domínio da vontade,
Quinquim largou-se ao repouso,
Perdendo a mediunidade.
16 Passou a viver deitado,
Não tinha fome nem sede,
Em seguida, piorou,
Cansado de cama e rede.
17 Quando quis recuperar-se,
A morte olhava Quinquim,
O pobre já tinha o nome
No grande listão do fim.
18 E o assunto é esse aí…
Se você quer triunfar,
Não escute corpo mole,
Nem pare de trabalhar.
Cornélio Pires
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