1 Você nos pergunta, em carta,
Meu caro Alfeu Segismundo,
Como encontrar alegria
Nas graves provas do mundo.
2 E continua afirmando:
— “Cornélio, o que diz você?
Tanta lágrima na Terra,
Não sei explicar porquê…
3 “Basta ler, ouvir e ver,
Nos campos de informação,
E a gente sofre pensando
Em tanta tribulação.
4 “É guerra que não se acaba,
É desespero alastrando,
É clima destemperado,
Calamidades em bando…
5 “É tromba d’água caindo,
Geada, seca, maré…
Amargura e insegurança
Surgem na falta de fé.
6 “É desastre, a toda hora,
É murro de força bruta…
De que modo ser feliz
Em meio de tanta luta?”
7 Digo, porém, caro amigo,
Que a Terra foi sempre assim:
— A escola que sempre educa,
Tanto a você, quanto a mim.
8 Você sabe: o educandário
Em que a gente se renova
Reclama trabalho, esforço,
Lição, disciplina e prova…
9 Mas se quer felicidade,
Medite, prezado Alfeu,
Nas cousas boas da vida
Que você já recebeu.
10 Pense nas almas queridas
Que o situaram no bem,
Nos recursos que o protegem,
Nas amizades que tem.
11 Olhe o poder que possui
De buscar o que lhe agrade,
Você consegue mover se,
Conforme a própria vontade.
12 Lembre o sono que desfruta,
A mesa que o reconforta,
A fonte jorrando em casa,
O pão que lhe vem à porta.
13 Recorde a sombra vencida
Pelos dons da luz acesa,
Os recursos do progresso
E as bênçãos da natureza.
14 Medite nos animais
Que sofrem no dia a dia,
Para que o prato lhe seja
Um transmissor de alegria.
15 Pense nos dias tranquilos
De estudo, de calma e prece,
Nas horas somente suas
Em que ninguém lhe aborrece.
16 Então, você notará,
De atenção célere e pronta,
Que os benefícios da Terra
São benefícios sem conta.
17 Em síntese, caro amigo,
No mundo, a gente, a meu ver,
Muito pouco sofreria
Se soubesse agradecer.
18 Se você quer progredir
Na luz que Deus nos consente,
Esqueça a conversa mole,
Largue a queixa e siga em frente.
Cornélio Pires
|