1 “Meus irmãos,” era a palavra
De Jovino Conceição,
“A nossa casa de preces
Exige renovação.
2 “O nosso Centro, por si,
Tem muita terra ociosa,
Desde a Rua das Palmeiras
Até a Rua Formosa.”
3 Contava o orador apenas
Dois meses de fé mofina,
Mas era um verbo fluente
Nos assuntos da Doutrina.
4 “Nosso maior compromisso
Está vinculado ao povo…
Mostraremos na própria ação
Tudo melhor, tudo novo…
5 “Necessitamos pensar
Nas surpresas do porvir
Nossa sede é um pardieiro,
Velha tapera a cair.
6 “Sendo grande e complicada,
A casa virá no fim…
Teremos primeiramente
Um amplo e belo jardim.
7 “Ergueremos junto dele
A Casa das Refeições,
Que atenda aos necessitados
De todas as direções.
8 “Logo após, levantaremos
O lar que abrigue as crianças,
Demonstrando o nosso zelo
E o nosso apoio às mudanças.
9 “Faremos nobre instituto,
Com painéis em várias cores,
Educando a juventude
E preparando oradores.”
10 Na pausa, sacou do bolso
Anotações a granel,
De pé, ele organizou
Cinco pastas de papel.
11 Em seguida, anunciou:
“Trouxe aqui o meu esquema
A fim de que ninguém veja
Que estou criando problema.
12 “Espero que não perguntem,
Nem façam perquirições;
Ganhei, no alto comércio,
Seiscentos e dez milhões.
13 “Não me falem esta frase:
— Dinheiro aqui não se tem,
Dinheiro e Obras do Cristo
É dele e de mais ninguém…”
14 — Quando será tudo isso?
Indagou Chiquinho Lemos.
O orador disse nervoso:
“Amanhã começaremos.”
15 No entanto, eis a despedida
Que já se achava marcada.
O grupo entregou-se a planos
Até a alta madrugada.
16 Falou-se em reconstrução,
Em vasto campo de esporte,
Em que toda a criançada
Pudesse ficar mais forte.
17 No outro dia, muito cedo,
O entusiasmo cresceu…
Mas Jovino Conceição
Nunca mais apareceu.
Cornélio Pires
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