1 Logo após o início da sessão, Cacique de Barros, distinto baiano que foi valoroso missionário dos princípios espíritas no Rio Grande do Sul, falava, despretensioso, quanto à necessidade de se coibirem as mistificações nos fenômenos mediúnicos.
2 Recomendava o estudo constante. Encarecia a meditação.
Era preciso tudo fiscalizar, pelo crivo da análise.
3 A palavra dele conquistava simpatia crescente…
Como, porém, solucionar o problema?
4 O círculo de confrades entrou em oração, e ele rogou parecer ao mentor da casa.
Através do médium, o Amigo Espiritual compareceu bem-humorado e, depois de saudação fraterna, falou conciso:
— Meus irmãos, há uma lenda hindu que nos esclarece. 5 Um homem necessitado era dono de um burro que lhe prestava grandes serviços. Mas, porque não tivesse recursos, enfraqueceu-se o animal por falta de forragem. Passeando, porém, a distância de casa, o homem achou um tigre morto. E teve uma ideia. Cobriria o humilde cooperador com a pele do tigre e soltá-lo-ia cada noite nas terras dos fazendeiros vizinhos. Visto disfarçado em tigre, o burrico seria respeitado, e assim aconteceu. O muar fartava-se de cevada e, manhãzinha, era recolhido pelo dono à pequena estrebaria. O burro, nesse regime, fez-se nédio, contente da vida. Mas, surgiu uma noite em que jumentas vararam a paisagem, zurrando, zurrando… E o burro, acordado nas afinidades do instinto, zurrou e zurrou também… Os fazendeiros, com isso, descobriram a farsa e mataram-no a cacetadas, rasgando-lhe toda a pele…
6 O orientador fez uma pausa e continuou:
— Nome, forma, gesto, fama e autoridade são aspectos na pessoa, sem serem, de modo algum, a pessoa em si.
7 Em seguida, concluiu:
— Se vocês quiserem realmente conhecer benfeitores e malfeitores, sábios e ignorantes, sãos e doentes, encarnados e desencarnados, escutem, com atenção, a fala de cada um.
Hilário Silva