1 O rapaz fora rudemente esbofeteado num baile. Em sã consciência, não sentia culpa alguma. Nada fizera que pudesse ofender. Por mera desconfiança, o agressor esmurrara-lhe o rosto. “Covarde, covarde,” — haviam dito os circunstantes. 2 Ele, porém, limpando a face sanguinolenta, compreendeu que, desarmado, não seria prudente medir forças. Jurara, porém, vingar-se. 3 E, agora, munido de um revólver, aguardava ocasião. Um amigo, no entanto, percebendo-lhe a alma sombria, instou muito e conduziu-o a uma reunião da Doutrina Espírita.
4 Desinteressado, ouviu preces e pregações, comentários e apontamentos edificantes.
5 Ao término da sessão, porém, um amigo espiritual, pela mão de um dos médiuns presentes, escreveu bela página sobre o perdão, na qual surgiam afirmações como estas:
6 — A justiça real vem de Deus.
— Ninguém precisa vingar-se.
7 — Mesmo ferido, serve e perdoa.
— A corrigenda do ofensor pode ser amanhã.
8 O jovem ouviu atentamente e saiu pensando, pensando…
9 Na manhã seguinte, topou, face a face, o desafeto, mas recordou a lição e conteve-se. Por uma semana se repetiu o reencontro, e, por sete vezes, freou-se prudentemente.
10 Dias depois, porém, retornando ao trabalho, encontra um enterro e descobre-se. Só então vem a saber que o grande esmurrador, aquele que o ferira, morrera na véspera, picado por escorpião.
Hilário Silva