O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A Vida Escreve — Hilário Silva — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 1ª Parte


23

Boca torta

1 Antes de sair para lecionar Evangelho às crianças, no templo espírita, Dona Rosália chamou a jovem que lhe atendia à cozinha e, guardando certa porção de goiabada no armário, avisou:

— Guilhermina, peço que reserve o doce para as visitas que estou esperando.

2 Daí a instantes, Joaninha, a caçula da casa, veio à copa e retirou da prateleira pequeno bolo que destinava a uma colega que sempre lhe pedia merenda.

E seguiu a mãezinha para a aula.

3 A preleção do dia versava sobre a mentira, e perante mais de trinta crianças D. Rosália contou vários casos fatais de meninos mentirosos, como aquela história do garoto que enganava sempre a todos e acabou morrendo afogado, porque julgavam estivesse ele a brincar.

4 A miúda assembleia escutava com assombro.

— E depois disso tudo, — esclarecia a professora, — sempre ouvi dizer que as pessoas mentirosas trazem defeitos na boca. Algumas perdem a língua, outras ficam de lábios tortos.

Finda a aula, todos os meninos estavam muito bem impressionados.

5 De novo em casa e ao tomar os chinelos para descanso, a dona da casa é procurada por jovem da vizinhança.

— Dona Rosália, — diz respeitosa, — tia Cota mandou pedir à senhora um pedaço de goiabada, se a senhora tiver…

— Ah! minha filha, hoje não temos doce algum, — foi a resposta.

6 Joaninha, porém, que ouvia, em silêncio, falou de pronto:

— Tem sim, mamãe.

— Ora essa! — Disse a mãezinha, desapontada, — acaso teremos doce sem que eu saiba?

— Está no armário. Vamos lá.

7 D. Rosália seguiu a filhinha e confirmou que realmente se enganara e, sorrindo, embora corada de vergonha, entregou toda a goiabada existente à vizinha, que se despediu com sincero agradecimento.

Em seguida, a professora de Evangelho sentou-se pensativa…

8 Mas, ao vê-la nesse estado, a pequenina, que não passava dos cinco anos de idade, abeirou-se dela, abraçou-a e disse simplesmente:

— Mãezinha, eu sei que a senhora não sabia onde estava a goiabada. Eu tive foi muito medo de a senhora ficar com a boca torta…

9 D. Rosália, porém, afagou-a, com mais carinho, e falou:

— Não se preocupe, minha filha. Tudo está muito bem. Nossas visitas de hoje não terão doce, mas sua mãe terá a consciência tranquila.


Hilário Silva


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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