O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A Vida Escreve — Hilário Silva — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 1ª Parte


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O livro-libelo

1 O distinto causídico não ocultava a ojeriza que experimentava pela Doutrina Espírita. Fosse onde fosse, se a conversa versasse sobre algum tema de Espiritismo, escorregava deliberadamente para o sarcasmo. “Essa história de Espiritismo só num tratado psiquiátrico” — dizia, irônico, — e destilava pequenas difamações como quem debulhava espigas de brasas. 2 Tão azedo adversário se fizera, que aproveitou largo período de férias, em fazenda silenciosa, para escrever um livro contra os postulados espíritas. Livro-acusação. Livro de ódio. Nos serões caseiros, costumava ler para os amigos esse ou aquele trecho, em que médiuns eram denunciados e apupados de maneira cruel. E riam-se, ele e os companheiros, entre um e outro gole de uísque, salpicando a lama esfogueante em forma de letras.

3 O distinto advogado assumia as primeiras responsabilidades para enviar o volume à editora, quando sobreveio o inesperado.

Dirigia carro elegante, nas proximidades de um grupo escolar, quando atarantado pequeno, a correr desorientado, lhe cai sob as rodas.

Um passarinho sob um trator não morreria mais depressa.

Tumulto. Autoridades em cena.

4 Ele mesmo, suportando os impropérios do povo, apanha o cadáver minúsculo e, de coração agoniado, busca a residência da vítima.

Em sã consciência não é culpado, mas tem o coração alanceado de intensa dor.

5 Chorando copiosamente, entrega o menino morto aos pais em pranto, que o recebem sem a mínima queixa.

O pai acaricia os cabelos da criança, em silêncio, e a mãezinha ora em lágrimas.

6 Deseja ser humilhado, acusado, ferido. Isso, decerto, lhe diminuiria a tensão. Encontra ali, porém, apenas a resignação e a serenidade.

7 O advogado consulta então a família sobre a instauração do processo de indenização, mas o chefe da família responde, firme:

— Nada disso. O doutor não teve culpa alguma. Ninguém faria isso por querer… Os desígnios de Deus foram cumpridos…

8 E a mãe do menino, enxugando o rosto, acrescenta:

— Choramos, como é natural, mas não desejamos indenização alguma. Deus sabe o que faz.

9 O causídico, de olhos vermelhos, considerou:

— Então…

10 Mas o dono da casa cortou-lhe a palavra, acentuando:

— Doutor, não se preocupe… Compreendemos perfeitamente que o senhor não tem culpa… O senhor está sofrendo tanto quanto nós… Ore conosco, a fim de acalmar-se…

11 Admirando-lhes a paciência cristã, o causídico indagou, vacilante:

— Que religião professam?

— Nós somos espíritas, — informou o pai da pequena vítima.

12 O advogado baixou a cabeça e ali permaneceu, sensibilizado e prestimoso, até à realização dos funerais.

E à noite, em casa, de coração opresso e transformado, fechou-se no quarto e rasgou o livro-libelo que havia escrito.


Hilário Silva


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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