1 No Rio de Janeiro, pequeno grupo de companheiros, no culto da assistência, entrou no presídio da Rua Frei Caneca.
Distribuição de lembranças e guloseimas.
2 Passando por determinada cela, D. Almira Barbosa ouve a voz de um encarcerado:
— Madame, quer arranjar-me um cigarro, por favor?
3 D. Almira volta-se para ele e começa a doutrinar.
Diz-se habituada aos serviços da saúde, fala dos prejuízos do fumo, comenta os imperativos da higiene, explana sobre as despesas trazidas pelo hábito de fumar e refere-se ao câncer do pulmão.
4 O preso observa a senhora, calmamente, dos pés à cabeça.
Quando termina, replica fleumático:
— Ora, madame, quem, neste mundo, está sem algum costume censurável? A senhora é assistente de saúde, eu sou sapateiro. Com certeza, não fuma; entretanto, tem belos sapatos “Luís XV”, que lhe prejudicam a saúde. Já pensou nos perigos do salto alto? A senhora me desculpe, mas tanto erro eu com o cigarro reprovável quanto a senhora com o calçado inconveniente.
Hilário Silva