1 — Uma boa palavra auxilia sempre. Às vezes, supomo-nos sozinhos e proferimos inconveniências. Desajudamos quando podíamos ajudar. É preciso aproveitar oportunidades. Falar é um dom de Deus. Se abrimos a boca para dizer algo, saibamos dizer o melhor.
2 A pequena assembleia ouvia atenta a palavra de Sálus, o instrutor espiritual que falava pelo médium.
— Não adianta repetir frases inúteis. E é sempre falta grave conferir saliência ao mal. Comentemos o bem. Destaquemos o bem.
Dentre todos os presentes, Belmiro Arruda escutava em silêncio.
3 Decorridos alguns dias, Arruda, nas funções de pedreiro-chefe, orientava o término da construção de grande recinto. O enorme salão parecia completo. Tudo pronto. Acabamento esmerado. Pintura primorosa.
— Experimentemos a acústica, — disse o engenheiro superior.
E virando-se para Belmiro:
— Grite algo.
4 Arruda, recordando a lição, bradou:
— Confia em Jesus!… Confia em Jesus!…
5 O som estava admiravelmente distribuído.
Os operários continuavam na sua faina, quando triste homem penetra o recinto. Cabeleira revolta. Semblante transtornado.
— Quem mandou confiar em Jesus? — Perguntou.
6 Alguém aponta Belmiro, para quem ele se dirige, abrindo os braços.
— Obrigado, amigo! — Exclamou.
7 E mostrando um revólver:
— Ia encostar o cano ao ouvido, entretanto, escutei seu apelo e sustei o tiro… Queria morrer no terreno baldio da construção, mas sua voz acordou-me… Estou desempregado, há muito tempo, e sou pai de oito filhos… Jesus, sim! Confiarei em Jesus!…
8 Arruda abraçou-o, de olhos úmidos. O caso foi conduzido ao conhecimento do diretor do serviço. E o diretor, visivelmente emocionado, estendeu a mão ao desconhecido e falou:
— Venha amanhã. Pode vir trabalhar amanhã.
Hilário Silva