1 Querida irmã.
Recebi o seu apelo de mãe. Ouvi o seu chamado, qual se lhe escutasse o próprio coração, transformado em campainha de lágrimas.
2 Entrei no quarto, onde a senhora nos solicitava a presença.
Comovi-me ao vê-la em pranto convulsivo, a mostrar-me um retrato: a foto de seu filho atropelado por um carro, em que o velocímetro mostrava haver sofrido o delírio da velocidade.
Notei que a sua sensibilidade me percebia com os olhos do pensamento.
3 Sentindo-me assim perto, o seu amor explodiu numa tempestade de angústia.
E doeu-me ouvi-la clamar:
— Veja, Augusto, o semblante do meu filho que a violência arrasou… Você que mora no Mais Além, fale-me dele… Se existe outra vida, conte-me onde está o anjo que me guiava o coração! Vinte anos de felicidade destruídos num minuto…
Você choraria ao vê-lo caído na rua, num lençol de sangue… Auxilie-me a punir o assassino que o matou barbaramente… Ah! você que escreve para o consolo de tanta gente jovem, compadeça-se da mãe infeliz que eu sou!…
4 Quando a sua voz ficou embargada pelo sofrimento, observei o quarto de rapaz em que nos achávamos: o leito vestido de peças alvas, a mesa atulhada de livros, duas chuteiras dependuradas, uma bandeira de futebol e dois retratos de moças famosas da nossa televisão.
Lembrei-me do carinho com que minha mãe organizava o recanto em que vivi, em nossa própria casa e também chorei.
5 As suas palavras carregadas de dor me retalhavam o espírito e improvisei o único socorro ao meu alcance: a prece com que pedi a Jesus lhe restitua a esperança.
6 Naquele instante, não era eu o pobre rapaz que vem garatujando recados para os companheiros de minha faixa. Senti-me também seu filho, porque encontrava em seu sofrimento a agonia de minha mãe ao receber-me o corpo inerte, quando a morte me arrancou de seus braços.
7 E agora que muitos dias se passaram, de coração asserenado, posso dizer-lhe que o seu filho existe e lhe trará a mensagem consoladora com que se lhe restaure a alegria de viver. Para isso, porém, sinto-me constrangido a lhe pedir algo: o perdão para quem a feriu inconscientemente.
8 Em plena Vida Maior, seu filho desejará que a sua dedicação aos semelhantes não se perca da grandeza com que lhe guarda a imagem na memória. Continue a amá-lo, naqueles irmãos do mundo que se mostrem ainda ignorantes e infelizes.
9 Se a senhora sente dificuldade para fazer isso, permita-me dizer-lhe que existiu no mundo certa mulher maravilhosamente nobre que viu, com os próprios olhos, a injustiça com que lhe assassinaram o filho querido, diante de grande público. Ao vê-lo sentenciado à morte sem razão, não pronunciou a mínima queixa. E sabendo-o injuriado por muitos, simplesmente calou-se em oração, entregando-se a Deus a quem se confiava em todas as circunstâncias.
10 Essa mulher inolvidável que o mundo reverencia na condição de Mãe de todas as Mães da Terra, é conhecida por Maria de Nazaré e o seu filho, condenado à morte sem culpa, tem o nome de Jesus Cristo.
Augusto Cezar