“A Nova Era”, presente à concorrida Tarde de Autógrafos de Chico Xavier em 2 deste mês, em Sacramento (MG), teve a feliz oportunidade de abraçar efusivamente esse grande amigo, e ouvir suas sempre maravilhosas lições.
122 — O CARÁTER DOS DISCURSOS
P: — Inúmeros confrades que presenciaram seus últimos discursos notaram que o irmão, nessas ocasiões, vivia como que uma nova didática do discurso, sem a costumeira eloquência e isolamento do orador. O que nos diz a isto?
R: — Posso dizer que fui colhido de improviso a essa tarefa de contato mais intenso com o público. Esses títulos de cidadania, compreendemos muito bem, não têm sido dados a mim, que não os mereço; eles naturalmente são dádivas de legislativos generosos à nossa Doutrina Espírita, e eu não passo de um poste obscuro para a colocação do aviso de que a Doutrina Espírita foi premiada com essas considerações públicas. Tenho recebido essa tarefa nesta condição: na condição de mero instrumento. Posso adiantar que nas ocasiões desses discursos, desde a primeira vez que me vi em contato mais intensivo com a nossa gente, reunida em maior número, eu me senti numa espécie de transe que no momento eu não posso definir com muita clareza. Desde os programas últimos de televisão, sinto que o Espírito de Emmanuel me ocupa a vida mental e física, dando margem a que eu esteja presente para assumir responsabilidade, e induzindo-me a falar muitas vezes na primeira pessoa, naturalmente para não alarmar aqueles que ainda não têm contato com a mediunidade. Mas, francamente, nesses discursos eu sou médium; muitas vezes pergunto aos amigos o que é que eu falei, porque eu não tenho consciência exata disto.
123 — RESPEITO A OUTROS MOVIMENTOS ESPIRITUALISTAS
P: — Muitos confrades observam também que pouco, ou quase nada, falam os irmãos espirituais sobre a situação da Doutrina face ao Ocultismo e doutrinas correlatas, como Esoterismo, Teosofia, Rosacrucianismo, etc. A imprensa mundial, ultimamente, revela o extraordinário aumento do interesse público por esses movimentos. Quanto a isto, o que poderia dizer sobre a posição do Espiritismo atual?
R: — Acreditamos, com as instruções dos Bons Espíritos, que a posição da Doutrina Espírita é uma posição definida. Estamos diante do Evangelho Redivivo, porque o Espiritismo traz de novo as lições de Jesus, interpretadas com sinceridade e verdade. Respeitamos nós todos quaisquer faixas de conhecimento humano relacionadas com o Ocultismo, com o Espiritualismo em geral. Todas as escolas de Esoterismo, de conhecimentos chamados secretos, são dignas do nosso maior acatamento. Mas, se nós estamos na escola da Doutrina Espírita, com trabalho gigantesco a realizar, de nossa parte cremos que seja nosso dever respeitar todos os movimentos espiritualistas, sem desconsiderá-los de modo algum, mas cumprir a nossa tarefa do Evangelho de Jesus tanto quanto eles, os movimentos espiritualistas, estão cumprindo, com fidelidade e grandeza, os compromissos deles diante das doutrinas orientais.
124 — COMO PROGRIDE O HOMEM
P: — O homem somente progride por esforço próprio ou também por uma contingência da vida?
R: — Progride através desses dois impulsos. Apenas devemos considerar que, pelas contingências da vida, ele terá um progresso comparado ao da pedra rolante do rio; com o tempo, uma pedra deixará suas arestas no rio natural, enquanto que com os instrumentos chamados ao aperfeiçoamento da pedra, o enriquecimento dessa mesma pedra preciosa se faz muito mais direto. Por esforço próprio, podemos realizar em alguns anos aquilo que, pelas contingências, podemos gastar milênios. Mas, pelo esforço próprio, o esforço de dentro para fora é o esforço do burilamento pessoal, através da autocrítica, do autoexame. Agora, com o tempo, é de fora para dentro: gastaremos séculos e séculos, e mais séculos.
125 — OBSESSÕES EM MASSA
P: — Que poderia dizer das obsessões em massa que se verificam no mundo, atualmente?
R: — Um assunto dos mais palpitantes, e que nos obriga a trabalhar intensivamente pela difusão dos princípios espíritas-cristãos, porque consideramos cada reunião espírita na base do Evangelho, como reunião dedicada ao trabalho de desobsessão. Em nossas casas espíritas, em nossos contatos públicos, nós estamos também trabalhando em desobsessão intensiva, isto é, desobsessão em massa, já que estamos observando muitos problemas da obsessão igualmente em massa.
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel
[16] Transcrita do jornal “A Nova Era”, Franca, SP, 15 de dezembro de 1972, sob o título “Uma Entrevista com Chico Xavier”.