67 — CIDADÃO CAMPINEIRO
Líder espiritual de milhares de brasileiros, o novo “Cidadão Campineiro” Francisco (Chico) Cândido Xavier, foi aplaudido por milhares de pessoas, sábado e domingo em Campinas. Recebido com honras em todas as cidades por onde passa, ele tem sua mão beijada por adeptos de sua crença. Sempre humilde, ele igualmente beija aqueles que o cumprimentam. Para a maioria das pessoas, o famoso mineiro de Pedro Leopoldo é um gênio, para outros, um mito, para quase todos, motivo de admiração. Admiração que se traduz na alta voz de um jovem ao dizer, depois de cumprimentá-lo, no Centro Espírita Allan Kardec, sábado, que havia recebido “as bênçãos de Chico Xavier”. Recebido e procurado por altas autoridades, ele esteve, ontem, na Casa da Criança Meimei, reunido com dirigentes espíritas da cidade, quando prestou um depoimento ao Diário do Povo. Depois, foi almoçar em uma chácara do Bairro de Santa Lúcia, com o prefeito Lauro Péricles Gonçalves e outras pessoas.
Sábado, depois de receber o título de “Cidadão Campineiro”, ele recebeu mais de três mil pessoas interessadas, pelo menos, em cumprimentá-lo. Ontem, seu programa não previa atendimento ao público. Mesmo assim, dezenas de pessoas foram até o local da reunião, no Bairro do Castelo, para vê-lo pelo menos.
Esta figura mística, está respondendo a várias perguntas sobre sua crença — o Espiritismo, — da qual é um dos principais propagadores. É Chico Xavier o autor de mais de cem obras espíritas psicografadas, algumas delas editadas em castelhano, francês, inglês, japonês e esperanto.
68 — VIDÊNCIA DE CAMPINEIROS DO PASSADO
Pergunta: Na solenidade de entrega do título de “Cidadão Campineiro”, estavam presentes, em Espírito, grandes homens da cidade?
Resposta: Vi, realmente, muitos deles, mas não estou memorizando suficientemente. Eles podem ser revistos nas palavras gravadas. Tendo perguntado ao Espírito de Emmanuel, que nos dirige, quanto ao motivo de termos, naquela solenidade, tantos Espíritos elevados, que se interessam pelo engrandecimento e pela felicidade de Campinas, ele me esclareceu: — Isso se verifica em função do bicentenário da cidade, sendo que em todo o mês de julho corrente, amigos espirituais têm vindo, quando possível, à cidade, a fim de compartilhar da referida comemoração.
(Quem esteve na solenidade de entrega do título no Ginásio de Esportes do Taquaral, deve se lembrar que o médium fez um relato histórico sobre Campinas, lembrando nomes de várias personalidades como Barreto Leme, Quirino dos Santos, Campos Sales, Carlos Gomes, e Francisco Glicério).
69 — PSICOGRAFIA DE LITERATO CAMPINEIRO
P: — Algumas vezes, o senhor recebeu mensagens psicográficas de algum literato, poeta ou pensador campineiro já falecido?
R: — São tantos os amigos espirituais que têm se comunicado comigo no curso do tempo, de 1927 até agora, que eu precisarei pensar, porque não estou em dia com a bibliografia deles todos.
(Francisco Cândido Xavier nasceu a dois de abril de 1910 e cursou, apenas, o primário. Foi balconista de armazém e ingressou no funcionalismo público em 1933. Aposentou-se em 1961, na qualidade de escriturário e psicografou sua primeira página com 17 anos).
70 — DIANTE DA MULTIDÃO
P: — Que sente ao ser tão disputado pela multidão?
R: — Eu sinto, cada vez mais, a minha desvalia, porque nada tenho a dar de mim. Compreendo que é muita bondade de todos, ao trazerem um abraço pessoal. Vejo nisso a bondade humana.
71 — PSICOGRAFIA DE PÁGINAS MUSICAIS
P: — O senhor teria a oportunidade de receber páginas musicais?
R: — Este assunto já foi abordado certa vez e o nosso Emmanuel nos disse que esta possibilidade existe. Por uma questão de especialização, enquanto eu possa, devo me deter na psicografia, deixando a outros médiuns esta parte para que a mediunidade, no meu caso, dependendo de muito tempo, possa render maior trabalho espiritual.
(“Parnaso de Além Túmulo”, “Antologia dos :mortais” e “Nosso Lar” são alguns de seus livros editados. O primeiro deles foi psicografado aos 18 anos e recebido do espírito de vários poetas conforme seus dados biográficos apresentados pelo vereador Adauto Ribeiro de Melo, que foi o autor do projeto de concessão da cidadania campineira a Chico Xavier, juntamente com o presidente da Câmara Municipal, vereador Antônio Rodrigues dos Santos Júnior).
72 — O ESPIRITISMO E O FUTURO DO BRASIL
P: — Qual o futuro do Espiritismo cristão no Brasil, a seu ver?
R: — Os Espíritos amigos sempre nos dizem que o Brasil está destinado a grandes realizações na vivência do Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo. Deste modo, é de esperar que tenhamos no Brasil, a civilização cristã do futuro, sem qualquer menosprezo a outras nações igualmente cristãs. Mas sendo o Evangelho do Cristo, especialmente uma norma de vida, no Brasil esta norma vem sendo observada nos procedimentos de vida de seu povo, que procura cultuar a fraternidade cristã, com assistência recíproca, com a paz e com a segurança de todos cada vez mais.
(Na opinião do jornalista Mário Boari Tamassia, o médium é “não só um porta voz do Alto, mas, também, uma janela aberta, através da qual, na Terra penetra o esplêndido sol do Cristo, reconfortando os corações tiritantes de frio ou remoídos de saudade, concedendo-lhes a certeza da vida imortal e de que os nossos mortos queridos continuam vivos, esperando-nos para o abraço festivo do reencontro”.)
73 — KARDECISMO E OUTRAS SEITAS ESPIRITUALISTAS
P: — O senhor poderia tecer considerações sobre o chamado “baixo espiritismo”, comparando-o com aquele do qual é um dos seguidores?
R: — Nós estamos ligados à interpretação Kardequiana do Evangelho e da vida. Dentro desta escola, nós nos sentimos na condição de alunos, matriculados numa faculdade de libertação espiritual, com a bênção de Jesus-Cristo. Não podemos julgar os nossos irmãos, de outros setores de atividades mediúnicas ou religiosas, porque compreendemos que a mediunidade é atributo de todos. Muitas vezes, um companheiro doente, é um médium que se encontra psiquicamente enfermo, sem possibilidade de entendimento da sua própria situação. Nós entendemos, também, que na vida espiritual imediata, temos milhões de criaturas que, tanto quanto nós, não conseguem se alterar de um dia para outro. Por isso mesmo, continuam com a vida espiritual que possuem aqui no mundo físico, diante de horizontes infinitos que se abrem para nós todos, no sentido de trabalhar pelo nosso próprio aperfeiçoamento. Não compreendo, em lugar algum, em religião alguma, que haja planos mais baixos ou mais altos. Entendo que todos nós somos irmãos em humanidade, porque todos somos filhos de Deus, devendo ser respeitados nas ideias que tenhamos a respeito de Deus. Se um irmão nosso, adora determinada pedra, como sendo um objeto divino, devo, pelo menos de minha parte, em meu setor pessoal de comportamento, respeitar este companheiro, porque ele está realizando, dentro dele mesmo a respeito de Deus, o que possui de melhor. Mas isso não impede que tenhamos na doutrina codificada por Allan Kardec, um campo imenso de iluminação espiritual que está aberto a nós todos e que nos convida à libertação espiritual através do cumprimento dos nossos deveres. Ela ensina que a nossa liberdade, tem o tamanho do nosso dever cumprido de uns para com os outros, sempre sob a luz dos ensinamentos de Jesus-Cristo e do Evangelho que ele nos legou.
74 — PRECE
Com o auditório da Casa da Criança Meimei ocupado por dirigentes espíritas e convidados, que puderam ouvir a entrevista pelo serviço de som, Chico Xavier a encerrou com mais algumas palavras. Entre elas, uma pergunta para os ouvintes de sua crença: — Vocês acham que eu deprimi a ideia espírita?
Alguns responderam: “não”.
Antes de partir para o almoço, o médium participou de uma oração com todos, cumprimentou muitas pessoas e recebeu pedidos de autógrafos. Ele estava reunido desde 10:30 horas. Eram 13:30 e o prefeito já o aguardava há uma hora para o almoço. Ao seu lado dizia:
— Vamos Chico. Vamos, Chico.
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel
[11] Do jornal “Diário do Povo”, Campinas, SP, 29 de julho de 1974, sob o título: “Chico Xavier. Um mito, um líder ou um gênio?”. O médium recebeu o título de “Cidadão Campineiro” em 27 de julho de 1974.