O Autor Espiritual continua, no Mundo Maior, velando os passos dos entes queridos pelos caminhos terrestres.
Em nova oportunidade, ao comparecer à reunião pública do “Grupo Espírita da Prece”, em Uberaba (MG), na noite de 18 de junho de 1976, escreveu através do lápis mediúnico de Francisco Cândido Xavier mais uma mensagem, a sexta.
Walter afigura-se-nos portador de uma flama inextinguível de afeto, estabelecendo com ela proveitosa ponte de luz entre o Alto e a Terra. Só o verdadeiro amor pode unir perenemente os corações, superando, inclusive, a barreira entre os Planos físico e espiritual.
É altamente significativa a sua primeira frase após a saudação inicial:
— A força do pensamento é uma alavanca invisível. Estivesse onde estivesse, creia que as suas requisições materiais me encontrariam.
Enaltece, assim, o poder do pensamento — base de todo o intercâmbio entre encarnados e desencarnados — deixando claro que pelas ondas mentais recebe os apelos maternos.
Não fica apenas na afirmativa: Tenho acompanhado todos os episódios de nossa jornada de redenção, comprovando o que diz, ao abordar e, ao mesmo tempo, apresentar soluções a vários problemas íntimos da família. Portanto, a autenticidade da comunicação mediúnica evidencia-se com limpidez.
Com dedicação constante e carinhosa, Walter tornou-se um benfeitor do núcleo familiar aqui deixado.
Baseados nestes comentários e pelo conteúdo de todas as mensagens, muitos poderão perguntar: “Walter transformou-se num anjo da guarda de sua família?”
E interrogamos nós: Existem anjos da guarda? Se reais, habitam as esferas espirituais e assistem aos encarnados?
Essa mesma questão foi apresentada pelo Espírito de André Luiz ao Ministro Clarêncio, quando, estudando dolorosos dramas desenrolados aqui na Terra, meditava nas grandes lutas das criaturas em face a numerosos problemas a resolver. Na ocasião, colheu e registrou esta preciosa elucidação:
“— Os Espíritos tutelares encontram-se em todas as esferas, contudo, é indispensável tecer algumas considerações sobre o assunto. Os anjos da sublime vigilância, analisados em sua excelsitude divina, seguem-nos a longa estrada evolutiva. Desvelam-se por nós, dentro das Leis que nos regem, todavia, não podemos esquecer que nos movimentamos todos em círculos multidimensionais. A cadeia de ascensão do Espírito vai da intimidade do abismo à suprema glória celeste.
Ligeira pausa trouxe paternal sorriso aos lábios do instrutor, que prosseguiu:
— Será justo lembrar que estamos plasmando nossa individualidade imperecível no espaço e no tempo, ao preço de continuadas e difíceis experiências. A ideia de um ente divinizado e perfeito, invariavelmente ao nosso lado, ao dispor de nossos caprichos ou ao sabor de nossas dívidas, não concorda com a justiça. Que governo terrestre destacaria um de seus ministros mais sábios e especializados na garantia do bem de todos para colar-se, indefinidamente, ao destino de um só homem, quase sempre renitente cultor de complicados enigmas e necessitado, por isso mesmo, das mais severas lições da vida? porque haveria de obrigar-se um arcanjo a descer da Luz Eterna para seguir, passo a passo, um homem deliberadamente egoísta ou preguiçoso? Tudo exige lógica, bom-senso.” n
André Luiz, como sempre atento observador, em vista do exposto, interrogou de pronto:
“— Com semelhante apontamento quer dizer que os anjos da guarda não vivem conosco?
— Não digo isso — asseverou o benfeitor.
E, com graça aduziu:
— O Sol está com o verme, amparando-o na furna, a milhões e milhões de quilômetros, sem que o verme esteja com o Sol.” n
Após breve pausa, reconhecendo que o tema merecia esclarecimento mais amplo, Clarêncio continuou:
“— Anjo, segundo a acepção justa do termo, é mensageiro. Ora, há mensageiros de todas as condições e de todas as procedências e, por isso, a antiguidade sempre admitiu a existência de anjos bons e anjos maus. Anjo da guarda, desde as concepções religiosas mais antigas, é uma expressão que define o Espírito celeste que vigia a criatura em nome de Deus ou pessoa que se devota infinitamente a outra, ajudando-a e defendendo-a. Em qualquer região, convivem conosco os Espíritos familiares de nossa vida e de nossa luta. Dos seres mais embrutecidos aos mais sublimados, temos a corrente de amor, cujos elos podemos simbolizar nas almas que se querem ou que se afinam umas com as outras, dentro da infinita gradação do progresso. A família espiritual é uma constelação de Inteligências, cujos membros estão na Terra e nos Céus. Aquele que já pode ver mais um pouco auxilia a visão daquele que ainda se encontra em luta por desvencilhar-se da própria cegueira. Todos nós, por mais baixo nos revelemos na escala da evolução, possuímos, não longe de nós, alguém que nos ama a impelir-nos para a elevação. Isso podemos verificar nos círculos da matéria mais densa. Temos constantemente corações que nos devotam estima e se consagram ao nosso bem. De todas as afeições terrestres, salientemos, para exemplificar, a devoção das mães. O espírito maternal é uma espécie de anjo ou mensageiro, embora muita vez circunscrito ao cárcere de férreo egoísmo, na custódia dos filhos. Além das mães, cujo amor padece muitas deficiências, quando confrontado com os princípios essenciais da fraternidade e da justiça, temos afetos e simpatias dos mais envolventes, capazes dos mais altos sacrifícios por nós, não obstante condicionados a objetivos por vezes egoísticos. Não podemos olvidar, porém, que o admirável altruísmo de amanhã começa na afetividade estreita de hoje, como a árvore parte do embrião. Todas as criaturas, individualmente, contam com louváveis devotamentos de entidades afins que se lhes afeiçoam. A orfandade real não existe. Em nome do Amor, todas as almas recebem assistência onde quer que se encontrem. Irmãos mais velhos ajudam os mais novos. Mestres inspiram discípulos. Pais socorrem os filhos. Amigos ligam-se a amigos. Companheiros auxiliam companheiros. Isso ocorre em todos os planos da Natureza e, fatalmente, na Terra, entre os que ainda vivem na carne e os que já atravessaram o escuro passadiço da morte. Os gregos sabiam disso e recorriam aos seus gênios invisíveis. Os romanos compreendiam essa verdade e cultuavam os numes domésticos. O gênio guardião será sempre um Espírito benfazejo para o protegido, mas é imperioso anotar que os laços afetivos, em torno de nós, ainda se encontram em marcha ascendente para mais altos níveis da vida. Com toda a veneração que lhes devemos, importa reconhecer, nos Espíritos familiares que nos protegem, grandes e respeitáveis heróis do bem, mas ainda singularmente distanciados da angelitude eterna. Naturalmente, avançam em linhas enobrecidas, em Planos elevados, todavia, ainda sentem inclinações e paixões particulares, no rumo da universalização de sentimentos. Por esse motivo, com muita propriedade, nas diversas escolas religiosas, escutamos a intuição popular asseverando: — “nossos anjos da guarda não combinam entre si”, ou, ainda, “façamos uma oração aos anjos da guarda”, reconhecendo-se, instintivamente, que os gênios familiares de nossa intimidade ainda se encontram no campo de afinidades específicas, e precisam, por vezes, de apelos à natureza superior para atenderem a esse ou àquele gênero de serviço.” n (os grifos são nossos).
Fundamentados nestas abalizadas explicações de Clarêncio, vemos em Walter, bem como em todos os Espíritos familiares que frequentemente se comunicam, Mensageiros do Bem e do Amor, a transmitir aos entes amados esclarecimentos e consolos, roteiros e novos ânimos. Estas almas se destacam em suas famílias espirituais graças à devoção ao trabalho enobrecedor e ao entesouramento de sentimentos elevados.
— Mãezinha, aceitação da Vontade Divina é uma força que não sei definir. Quando movimentamos os valores ao nosso alcance, sem atingir os resultados previstos por nós, então é a Lei de Deus que se manifesta. O homem planta a semente, mas a bondade dos Céus é que faz a germinação.
Eis outro trecho que não poderíamos deixar de realçar, dada a importância do conceito emitido.
Já tivemos o ensejo de estudar no capitulo 6, à luz da Doutrina Espírita, os aspectos básicos da atuação das Leis justas e misericordiosas emanadas do Criador, regendo a vida dos seres, traçando-lhes os caminhos da infinita ascensão espiritual.
A ação do nosso livre-arbítrio e a força do determinismo relativo, influentes na vida de todos, são aqui resumidas por Walter de forma admirável.
Somente o amplo entendimento da presença absoluta dos Decretos de Deus, em toda a Criação, nos levará a aceitar as determinações superiores, recalcadas na mais Perfeita Justiça e no mais Puro Amor, porque a felicidade para todas as criaturas é o objetivo maior do Criador.
Atentemos para o fato de que Jesus, conhecedor de todos os problemas e anseios da Humanidade, ao ensinar-nos a orar, num dos tópicos da Prece Dominical, caracterizou, em síntese sublime, a nossa necessidade primordial de aceitar os Desígnios Divinos: “Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu.” (Mateus, 6:10).
Os familiares de Walter, nossos conhecidos, são aqui citados. Dr. Massau Simizo, médico da família, já havia sido lembrado na Primeira Carta.
Comparecem pela primeira vez, nesta série de mensagens, as seguintes pessoas:
Christovam — Sr. José Custódio Christovam, amigo da família Perrone, residente em São Paulo, é o autor da bela página de saudade, integrante do capítulo 5 desta obra.
Vó Mariana — D. Mariana Guadanholi Donini, mãe de D. Maria D. Perrone, desencarnou em 10 de maio de 1970.
Vera Leonice — Após 3 meses de enfermidade, faleceu a 8 de março de 1970, deixando seu marido Henrique Tardioli e um robusto garoto, com 10 meses de idade, de nome Maurício.
Bisavô Donini — Sr. Nicola Donini, avô de D. Maria D. Perrone, falecido há 39 anos.
Sr. João Angelici — Era tio da mãe de Vera Leonice Tardioli. Desencarnou apenas 5 meses antes desta mensagem, em Ribeirão Preto (SP), portanto, fácil entender porque estava ainda um tanto abatido.
Tio Tardioli — Faleceu na Segunda Guerra Mundial. Na carta Walter trata-o carinhosamente de tio; era tio do esposo da prima Leonice Tardioli.
Hércio Marcos Cintra Arantes
[44] XAVIER, Francisco Cândido — Entre a Terra e o Céu. Pelo Espírito André Luiz. Cap. XXXIII, p. 213-214.
[45] Op. cit., p. 214.
[46] Op. cit., p. 214-216.