1 O insucesso no amor — torva loucura!
Minara-lhe a razão já combalida,
E no silêncio atroz da noite escura
Resolve exterminar a própria vida…
2 A taça de veneno, em mão segura,
Tomba o corpo no espasmo da partida…
Horas depois, em brasas de tortura,
A alma da jovem clama, arrependida!…
3 Junto à forma indefesa, enregelada,
Ela, à feição de rosa, jaz pendida n
Da haste imóvel e triste a que se aferra…
4 Convertera em abismo a curta estrada!
E, entre abatida e pávida, a suicida
Tarde demais pranteia sobre a terra!… n
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[1] Átila GUTERRES CASSES — Jornalista e poeta, pertenceu Guterres Casses à Sociedade de Homens e Letras do Brasil, bem como à extinta Academia Riograndense de Letras, onde ocupou a cadeira nº 9. “Uma das figuras mais representativas do Parnaso Gaúcho”, segundo Antônio Carlos Machado (Col. Poetas Sul-Riogr., pág. 243). Promotor público em várias cidades do seu Estado. Inspetor Federal do Ensino e redator da revista A Noite Ilustrada, do Rio. (Alegrete, Rio Grande do Sul, 26 de Junho de 1890 — Rio de Janeiro, Gb, 28 de Novembro de 1945.)
BIBLIOGRAFIA: Stradivarius, versos. Deixou inéditos: Filigranas e Rimas d’Antanho.
[2] Verso 10 - Observe-se o “enjambement”.
[3] Verso 14 - Guterres Casses inscreveu em sua obra Stradivarius algumas composições de sentimento reencarnacionista. Alinham-se, entre outros, esses sonetos em que o vate prega a doutrina das vidas sucessivas: “Introspecção” (pág. 86), “Reencarnação” (pág. 87), “Esto Memor” (pág. 88), “Avatar” (pág. 90), etc.
Satisfaremos a curiosidade do leitor, transcrevendo o belíssimo soneto “Reencarnação”, dedicado pelo Autor a Argeu Veiga:
“Na expiação de falhas milenárias,
Eis-me de novo na matéria inglória!
E, dessas migrações extraordinárias,
Nada guardei nas aras da memória!…
Não sei que culpas ou que faltas várias
Perpetrei nessa antiga trajetória!
Nem que lições cruéis e necessárias
Eu recebi na fase transitória!…
Não lembro o que me deu essa outra vida:
Se foi brilhante e farta em seus prazeres,
Ou foi trevosa e pobre e dolorida!…
Mas sei que volto às multiformas vis,
Pelo Mal que causei aos outros seres,
Pelo Bem que colhi e que não fiz!…”