1 Quanto caboclo iludido
No esforço de ovacionar!
Quanto tempo, em vão perdido!
Mas, amanhã, sem ruído,
Dona Morte vai chegar!…
2 Vejam vocês, minha gente,
Que teatro original!
Dentro dele quem não sente
O poder da nossa mente,
Nossa cultura ideal?
3 Quanta buzina que soa!
Quantos carros em ação! n
Vejam só quanta pessoa,
Gente rica e gente à-toa…
Hoje é dia de função!
4 Que moderna arquitetura!
Colunatas no jardim,
Decoração, escultura,
E paredes com pintura
De uma beleza sem fim!
5 Brilha a riqueza excessiva!
Luz solar em profusão.
Muita música festiva,
E criança que se esquiva
Circulando no saguão.
6 Mas em meio ao vozerio,
Rápido, surge um senhor
Em pleno palco vazio.
Silêncio quase sombrio
No recinto encantador.
7 A exibição que se espera
Afinal vai começar!
O povo que se aglomera
Olha o ator de cara austera,
Ele agora vai falar!
8 Surgirão flores e cenas?
Arte e ciência também?
Montagens grandes, pequenas?
Bons episódios que apenas
Falem da força do bem?
9 Nada disso! Ai nossos calos!
Escutem! Todos vão ver!
Nem gritos e nem abalos!
É a grande briga de galos,
De matar ou de morrer!…
10 Quanto caboclo iludido
No esforço de ovacionar!
Quanto tempo, em vão, perdido!
Mas, amanhã, sem ruído,
Dona Morte Vai chegar!… n
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