1 Tressuem nossas mãos em atos de bondade
Para quem sorve o fel da amargura suprema,
Por mais a injúria espanque, oprima, fira ou brade, n
Tomada de loucura em horrível dilema.
2 Aplaquemos em paz a torva tempestade
Na alma que clama e chora e se estorce e blasfema, n
Sob o visco do mal que a tudo enleia e invade,
A crescer no apogeu da invigilância extrema.
3 Ante as trevas em luta acirrada e tigrina,
Quando grita a revolta e a paixão tumultua,
São cascatas de luz as preces generosas.
4 O gesto de humildade é láurea Adamantina
Dos recessos do lar à ribalta da rua,
Da Terra escurecida às grandes nebulosas!
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[1] CIRIDIÃO DURVAL — Tendo concluído o curso de humanidades no Recife, em 1881, C. Durval ingressou na Faculdade de Direito, formando-se em 1885. Posteriormente, foi nomeado promotor público em Ilhéus. Uma vez criada a Faculdade de Direito da Bahia, passou a reger as cadeiras de Direito Criminal e de Direito Administrativo. Poeta brilhante, jornalista de talento e orador imaginoso, tinha um caráter “cristalizador de amizades e catalisador de simpatias”, segundo Romeu de Avelar in Colet. Poetas Alag., pág. 24. Foi dos poetas mais pranteados de quantos desencarnaram em plagas baianas. (Tatuamunha, Alagoas, 3 de Março de 1860 — Serrinha, Bahia, 17 de Agosto de 1895.)
BIBLIOGRAFIA: Sonetos; Ruínas; Acordes.
[2] Verso 3 - “Por mais (que) a injúria espanque…”: Elipse — “Espécie de FIGURA pela qual se omite, no texto, alguma palavra ou expressão cuja ausência, facilmente subentendida, não implica obscurecimento do sentido…” (Geir Campos. Op. cit.)
[3] Verso 6 - Polissíndeto: “… e chora e se estorce e blasfema”.