1 Céu de chumbo a rugir na imensidão remota
Verte em largos bulcões indômita procela.
No tempestuoso mar que se agita e encapela, n
Sofro o anseio febril dos náufragos sem rota.
2 Mergulho a vastidão, qual mísera gaivota
Que, em tentando fugir da nau que se esfacela,
Logra apenas ferir-se e tombar junto dela,
Sonho audaz de infinito amargando a derrota.
3 Desço às vascas do fim, no pélago profundo…
Irrompe de improviso a tela de outro mundo,
Sob a luz que transcende os fastos da memória.
4 Faz-se a treva esplendor, raia o dia opulento…
Ante a luz divinal, que banha o firmamento,
Levanto-me do abismo, em suprema vitória.
|
[1]JÚLIO Mário SALUSSE — Poeta lírico de inspiração invulgar, o autor de “Cisnes” estudou em Nova Friburgo e no Rio, aí se bacharelando em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais. Advogou durante alguns anos, sendo posteriormente promotor público na comarca de Paraíba do Sul e de Friburgo, no Estado do Rio. Fixou-se, depois, na terra carioca, onde continuaria a exercer a advocacia. Nilo Bruzzi (Júlio Salusse, o último Petrarca, pág. 16) considera-o o “maior poeta platônico deste século, no Brasil” e o “mais delicado romântico havido nas nossas letras”. E afirma: “Jamais teve um momento de revolta contra o destino, porque, sendo filho da mais atroz adversidade, recebia a dor como corolário natural da sua existência silenciosa.” Pertenceu à Academia Fluminense de Letras. (Friburgo, n Estado do Rio, 30 de Março de 1872 — Rio de Janeiro, Gb, 30 de Janeiro de 1948.)
BIBLIOGRAFIA: Nevrose Azul; Sombras.
[2] Verso 3 - Leia-se tem-pes-tuo-so, com sinérese.
[3] Nilo Bruzzi in op. cit., pág. 35, diz ter o poeta nascido na Fazenda Gonguy, Município de Bom Retiro, Estado do Rio.