1 Natal!… O trigo na azenha,
Água correndo a cantar!…
A lareira pede lenha,
Fagulhas brincam no ar.
2 Natal! Ah! saudade minha!…
Cantiga do coração!…
A taleiga de farinha
Amassa a estriga do pão.
3 Na sombra que envolve a terra,
Oiteiros acendem lume.
Do bragal que se descerra
Chegam vagas de perfume.
4 À janela, erguem-se vozes…
— “Pastores ternos, quem sois?!…”
Meninos voam às nozes;
Quanta alegria depois!…
5 Na sala que se alvoroça,
Surge um velho sem ninguém.
Diz o dono: “A casa é vossa
E a mesa é vossa também…”
6 Próvida e grande candeia
Faz luz sob o teto morno;
Espalha-se em toda a aldeia
O alegre cheiro de forno.
7 Há canções claras e puras,
Nas sebes tintas de breu:
— “Glória ao Senhor nas Alturas!…
Hosanas!… Jesus nasceu!…”
8 Um mocho pia de leve
No velho beiral vizinho …
Não sei se é chuva ou se é neve
Que o vento lança ao caminho!…
9 Meia-noite!… Dons supremos!…
Calam-se os próprios lebréus.
Roga a avozinha: — “Louvemos!…
Pai nosso que estás nos Céus!…”
10 Soluços da alma contente…
Doce visão do Natal!…
Deus vos salve eternamente,
Lembranças de Portugal!
Antônio Corrêa D’Oliveira
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