O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Alvorada Cristã — Neio Lúcio


21

O carneiro revoltado

1 Certo carneiro muito inteligente, mas indisciplinado, reparou os benefícios que a lã espalhava em toda parte, e, desde então, julgou-se melhor que os outros seres da Criação, passando a revoltar-se contra a tosquia.

— Se era tão precioso, — pensava, — por que aceitar a humilhação daquela tesoura enorme? Experimentava intenso frio, de tempos a tempos, e, despreocupado das ricas rações que recebia no redil, detinha-se apenas no exame dos prejuízos que supunha sofrer.

2 Muito amargurado, dirigiu-se ao Criador, exclamando:

— Meu Pai, não estou satisfeito com a minha pelagem. A tosquia é um tormento… Modifica-me, Senhor!…

O Todo-Poderoso indagou, com bondade:

— Que desejas que eu faça?

3 Vaidosamente, o carneiro respondeu:

— Quero que a minha lã seja toda de ouro.

A rogativa foi satisfeita. Contudo, assim que o orgulhoso ovino se mostrou cheio de pêlos preciosos, várias pessoas ambiciosas atacaram-no sem piedade. Arrancaram-lhe, violentamente, todos os fios, deixando-o em chagas.

4 O infeliz, a lastimar-se, correu para o Altíssimo e implorou:

— Meu Pai, muda-me novamente! Não posso exibir lã dourada… encontraria sempre salteadores sem compaixão.

O Sábio dos Sábios perguntou:

— Que queres que eu faça?

5 O animal, tocado pela mania de grandeza, suplicou:

— Quero que a minha lã seja lavrada em porcelana primorosa.

Assim foi feito. Entretanto, logo que tornou ao vale, apareceu no céu enorme ventania, que lhe quebrou todos os fios, dilacerando-lhe a carne.

6 Regressou, aflito, ao Todo-Misericordioso e queixou-se:

— Pai, renova-me!… A porcelana não resiste ao vento… estou exausto…

Disse-lhe o Senhor:

— Que desejas que eu faça?

— A fim de não provocar os ladrões e nem ferir-me com porcelana quebrada, quero que a minha lã seja feita de mel.

7 O Criador satisfez o pedido. Todavia, logo que o pobre se achou no redil, bandos de moscas asquerosas cobriram-no em cheio e, por mais corresse campo a fora, não evitou que elas lhe sugassem os fios adocicados.

8 O mísero voltou ao Altíssimo e implorou:

— Pai, modifica-me… as moscas deixaram-me em sangue!

O Senhor indagou, de novo, com inexaurível paciência:

— Que queres que eu faça?

9 Dessa vez, o carneiro pensou mais tempo e considerou:

— Suponho que seria mais feliz se tivesse minha lã semelhante às folhas de alface.

O Todo-Bondoso atendeu-lhe mais uma vez a vontade e o carneiro voltou à planície, na caprichosa alegria de parecer diferente. No entanto, quando alguns cavalos lhe puseram os olhos, não conseguiu melhor sorte. Os equinos prenderam-no com os dentes e, depois de lhe comerem a lã, abocanharam-lhe o corpo.

10 O carneiro correu na direção do Juiz Supremo, gotejando sangue das chagas profundas, e, em lágrimas, gemeu, humilde:

— Meu Pai, não suporto mais!…

Como soluçasse longamente, o Todo-Compassivo, vendo que ele se arrependera com sinceridade, observou:

— Reanima-te, meu filho! Que pedes agora?

11 O infeliz replicou, em pranto:

— Pai, quero voltar a ser um carneiro comum, como sempre fui. Não pretendo a superioridade sobre meus irmãos. Hoje sei que os meus tosquiadores de outro tempo são meus verdadeiros amigos. Nunca me deixaram em feridas e sempre me deram de comer e beber, carinhosamente… Quero ser simples e útil, qual me fizeste, Senhor!…

12 O Pai sorriu, bondoso, abençoou-o com ternura e falou:

— Volta e segue teu caminho em paz. Compreendeste, enfim, que meus desígnios são justos. Cada criatura está colocada, por minha Lei, no lugar que lhe compete e, se pretendes receber, aprende a dar.

Então o carneiro, envergonhado, mas satisfeito, voltou para o vale, misturou-se com os outros e daí por diante foi muito feliz.


Neio Lúcio


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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