1 Em tempos remotos, o Senhor vinha ao mundo frequentes vezes entender-se com as criaturas.
2 Certa vez, encontrou um homem irado e mau, que outra coisa não fazia senão atormentar os semelhantes. Perseguia, feria e matava sem piedade. Quando esse Espírito selvagem viu o Senhor, aproximou-se atraído pela luz d’Ele, a chorar de arrependimento.
3 O Cristo, bondoso, dirigiu-lhe a palavra:
— Meu filho, por que te entregaste assim à perversidade? Não temes a justiça do Pai? Não acreditas no Celeste Poder? A vida exige fraternidade e compreensão.
4 O malfeitor, que se mantinha prisioneiro da ignorância, respondeu em lágrimas:
— Senhor, de hoje em diante serei um homem bom.
5 Alguns anos passaram e Jesus voltou ao mesmo sítio. Lembrou-se do infeliz a quem havia aconselhado e buscou-o. Depois de certa procura, foi achá-lo oculto numa choça, extremamente abatido. Interpelado quanto à causa de tão lamentável transformação, o mísero respondeu:
— Ai de mim, Senhor! Depois que passei a ser bom, ninguém me respeitou! Fiz-me escárnio da rua… Tenho usado a compaixão e a generosidade, segundo me ensinaste, mas em troca recebo apenas o ridículo, a pedrada e a dilaceração…
6 O Mestre, porém, abençoou-o e falou:
— O teu lucro na eternidade não será pequeno com o sacrifício. Entretanto, não basta reter a bondade. É necessário saber distribuí-la. 7 Para bem ajudar, é preciso discernir. Realmente é possível auxiliar a todos. Contudo, se a muita gente devemos ternura fraterna, a numerosos companheiros de jornada devemos esclarecimento enérgico. 8 Estimularemos os bons a serem melhores e cooperaremos, a benefício dos maus, para que se retifiquem. 9 Nunca observaste o pomicultor? Algumas árvores recebem dele irrigação e adubo; outras, no entanto, sofrerão a poda, a fim de serem convenientemente amparadas.
10 O Senhor retirou-se e o aprendiz retomou a luta para conquistar o conhecimento.
Peregrinou através de muitos livros, observou demoradamente os quadros da vida e recebeu a palma da ciência.
11 Os anos correram apressados, quando o Cristo regressou e procurou-o, novamente.
Dessa vez, encontrou-o no leito, enfermo e sem forças.
12 Replicando ao Divino Amigo, explicou-se:
— Ai de mim, Senhor! Fui bom e recebi injustiças, entesourei a ciência e minhas dificuldades cresceram de vulto. 13 Aprendi a amar e desejar em sã consciência, a idealizar com o Plano superior, mas vejo a ingratidão e a discórdia, a dureza e a indiferença com mais clareza. Sei aquilo que muita gente ignora e, por isto mesmo, a vida tornou-se-me um fardo insuportável…
14 O Mestre, porém, sorriu e considerou:
— A tua preparação para a felicidade ainda não se acha completa. Agora, é preciso ser forte. Acreditas que a árvore respeitável conseguiria viver e produzir, caso não soubesse tolerar a tempestade? 15 A firmeza interior, diante das experiências da vida, conferir-te-á o equilíbrio indispensável. Aprende a dizer adeus a tudo o que te prejudica na caminhada em direção da luz divina e distribuirás a bondade, sem preocupações de recompensa, guardando o conhecimento sem surpresas amargas. Sê inquebrantável em tua fé e segue adiante!
16 O aprendiz reergueu-se e nunca mais experimentou a desarmonia, compreendendo, enfim, que a bondade, o conhecimento e a fortaleza são a trilogia bendita da felicidade e da paz.
Neio Lúcio