1 À porta de grande carpintaria, chegou um rapaz, de caixa às costas, à procura de emprego.
Parecia humilde e educado.
2 O diretor da instituição compareceu, atencioso, para atendê-lo.
— Tem serviço com que me possa favorecer? — Indagou o jovem, respeitoso, depois das saudações habituais.
3 — As tarefas são muitas, — elucidou o chefe.
— Oh! Por favor! — Tornou o interessado, — meus velhos pais necessitam de amparo. Tenho batido, em vão, à porta de várias oficinas. Ninguém me socorre. Contentar-me-ei com salário reduzido e aceitarei o horário que desejar.
4 O diretor, muito calmo, acentuou:
— Trabalho não falta…
5 E, enquanto o candidato mostrava um sorriso de esperança, acrescentou:
— Traz suas ferramentas em ordem?
— Perfeitamente, — respondeu o interpelado.
— Vejamo-las.
6 O moço abriu a caixa que trazia. Metia pena reparar-lhe os instrumentos.
A enxó se achava deformada pela ferrugem grossa.
O serrote mostrava vários dentes quebrados.
O martelo tinha cabo incompleto.
O alicate estava francamente desconjuntado.
Diversos formões não atenderiam a qualquer apelo de serviço, tal a imperfeição que apresentavam seus gumes.
Poeira espessa recobria todos os objetos.
7 O dirigente da oficina observou… observou… e disse, desencantado:
— Para o senhor, não temos qualquer trabalho.
— Oh! Por quê? — Interrogou o rapaz, em tom de súplica.
8 O diretor esclareceu, sem azedume:
— Se o senhor não tem cuidado com as ferramentas que lhe pertencem, como preservará nossas máquinas? Se é indiferente naquilo em que deve sentir-se honrado, chegará a ser útil aos interesses alheios? 9 Quem não zela atentamente no “pouco” de que dispõe, não é digno de receber o “muito”. Aprenda a cuidar das coisas aparentemente sem importância. 10 Pelas amostras, grandes negócios se realizam neste mundo e o menosprezo para consigo é indesejável mostruário de sua indiferença perniciosa. Aproveite a experiência e volte mais tarde.
11 Não valeram petitórios do moço necessitado.
Foi compelido a retirar-se, em grande abatimento, guardando a dura lição.
12 Assim também acontece no caminho comum.
Quem deseja o corpo iluminado e glorioso na espiritualidade, além da morte, cuide respeitosamente do corpo físico.
13 Quem aspira à companhia dos anjos, mostre boas maneiras, boas palavras e boas ações aos vizinhos.
14 Quem espera a colheita de alegrias no futuro, aproveite a hora presente, na sementeira do bem.
15 E quantos sonharem com o Céu tratem de fazer um caminho de elevação na Terra mesma.
Neio Lúcio