1 Certo dia, chegaram ao Céu um Marechal, um Filósofo, um Político e um Lavrador.
Um Emissário Divino recebeu-os, em elevada Esfera, a fim de ouvi-los.
2 O Marechal aproximou-se, reverente, e falou:
— Mensageiro do Comando Supremo, venho da Terra distante. Conquistei muitas medalhas de mérito, venci numerosos inimigos, recebi várias homenagens em monumentos que me honram o nome.
— Que deseja em troca de seus grandes serviços? — Indagou o Enviado.
— Quero entrar no Céu.
3 O Anjo respondeu sem vacilar:
— Por enquanto, não pode receber a dádiva. Soldados e adversários, mulheres e crianças chamam-no insistentemente da Terra. Verifique o que alegam de sua passagem pelo mundo e volte mais tarde.
4 O Filósofo acercou-se do preposto divino e pediu:
— Anjo do Criador Eterno, venho do acanhado Círculo dos homens. Dei às criaturas muita matéria de pensamento. Fui laureado por academias diversas. Meu retrato figura na galeria dos dicionários terrestres.
— Que pretende pelo que fez? — Perguntou o Emissário.
— Quero entrar no Céu.
5 — Por agora, porém, — respondeu o mensageiro sem titubear, — não lhe cabe a concessão. Muitas mentes estão trabalhando com as ideias que você deixou no mundo e reclamam-lhe a presença, de modo a saberem separar-lhe os caprichos pessoais da inspiração sublime. Regresse ao velho posto, solucione seus problemas e torne oportunamente.
6 O Político tomou a palavra e acentuou:
— Ministro do Todo-Poderoso, fui administrador dos interesses públicos. Assinei várias leis que influenciaram meu tempo. Meu nome figura em muitos documentos oficiais.
— Que pede em compensação? — Perguntou o Missionário do Alto.
— Quero entrar no Céu.
7 O Enviado, no entanto, respondeu, firme:
— Por enquanto, não pode ser atendido. O povo mantém opiniões divergentes a seu respeito. Inúmeras pessoas pronunciam-lhe o nome com amargura e esses clamores chegam até aqui. Retorne ao seu gabinete, atenda às questões que lhe interessam a paz íntima e volte depois.
8 Aproximou-se, então, o Lavrador e falou, humilde:
— Mensageiro de Nosso Pai, fui cultivador da terra… plantei o milho, o arroz, a batata e o feijão. Ninguém me conhece, mas eu tive a glória de conhecer as bênçãos de Deus e recebê-las, nos raios do Sol, na chuva benfeitora, no chão abençoado, nas sementes, nas flores, nos frutos, no amor e na ternura de meus filhinhos…
O Anjo sorriu e disse:
— Que prêmio deseja?
9 O Lavrador replicou, chorando de emoção:
— Se Nosso Pai permitir, desejaria voltar ao campo e continuar trabalhando. Tenho saudades da contemplação dos milagres de cada dia… A luz surgindo no firmamento em horas certas, a flor desabrochando por si mesma, o pão a multiplicar-se!… Se puder, plantarei o solo novamente para ver a grandeza divina a revelar-se no grão, transformado em dadivosa espiga… Não aspiro a outra felicidade senão a de prosseguir aprendendo, semeando, louvando e servindo!…
10 O Mensageiro Espiritual abraçou-o e exclamou, chorando igualmente, de júbilo:
— Venha comigo! O Senhor deseja vê-lo e ouvi-lo, porque diante do Trono Celestial apenas comparece quem procura trabalhar e servir sem recompensa.
Neio Lúcio