O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Alma e Vida — Maria Dolores


29

Arte e vida

1 Dizem que, em plenos céus, encontraram-se, um dia,
A cigarra cantora e a formiga prudente,
Mas deixando de longe a fábula dos homens
A fala do Senhor foi muito diferente.


2 Ele disse à formiga: “Sê bendita,
No esforço que fizeste… Embora pequenina,
Ensinaste na Terra as lições do trabalho,
Exaltando o valor da disciplina.
Construíste, guardaste, entesouraste,
Reservando celeiro ao próprio excesso,
E demonstraste aos homens quanto vale
A previdência ao culto do progresso.
3 Bendita sejas, por que promoveste
A união de teus grupos e parentes…
Serás na Terra o símbolo do apoio
Com que se deve amar aos próprios descendentes…”


4 Tendo havido uma pausa, a formiga contente
Talvez ansiando armar algum ingênuo enredo,
Desejou complicar a amiga desprezada
Que vivera cantando no arvoredo.


5 Mas o Senhor voltando ao verbo alto e sereno,
Decidiu-se expressando a própria Lei:
— “E, quanto a ti, cigarra, sê louvada
Pela atenção no encargo que te dei.
6 Raros homens souberam perceber-te
Na elevada missão de que foste investida,
O Céu determinou cantasses, embalando
A Natureza em luta, ante as ordens da vida.
7 Cantavas sem prender-te a tesouro e celeiro,
Sabendo que eu jamais te negaria,
Pensamento e palavra, harmonia e beleza
Para a benção do pão de cada dia.
8 Viajores prostrados de cansaço,
Ao ouvir-te as canções, guardando-as na lembrança,
Refaziam a fé nos poderes da vida,
Prosseguindo a jornada ao toque da esperança…
9 Troncos ao sol do estio, ressecados,
Erguendo aos céus os ramos sofredores,
Escutando-te a voz, aguardavam, em prece,
O regresso da chuva a cobri-los de flores…
10 Cantavas e a coragem retomava
Lares e prados, montes e caminhos,
Derramavas a música no Espaço
Alcançando os jardins, as árvores e os ninhos…
11 E muita vez, cantavas de tristeza
Sem que ninguém te visse a solidão,
Mas atendeste aos Céus que te pedia,
Servir cantando em forma de oração.
12 A formiga é a prudência apoiando o progresso,
Para que a Terra lute e evolua, a contento,
Entretanto, cigarra, serás sempre,
A inspiração de luz do firmamento.”


13 Artista, aceita a vida, embora as dores
Que a vida em si te impõe, sem compreendê-las,
14 O progresso constante é a grandeza do mundo,
A arte, porém, pertence ao País das Estrelas.


Maria Dolores


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir