1 E chegaste no mundo à grande encruzilhada:
De um lado a provação gritante e sem conforto,
De outro, o desalento ao peito semi-morto
2 E, mais além, a trilha obscura e escarpada,
Sob céu pardacento,
Em que te aguarda a aspérrima jornada
De sacrifício e sofrimento
Para atingir, de novo, a senda iluminada
Que te assegure paz no coração…
3 Clamas e choras, mas não te lastimes,
Nunca te faltará recurso a que te arrimes
Nem seguirás em vão.
4 Escuta, alma fraterna,
Não te deites, à margem do caminho,
Alegando cansaço e coração sozinho
Para fugir da estrada a percorrer…
5 Lança ao rio do tempo a dor que te consterna,
Reanima-te e volta ao movimento e à vida
E esquecerás a chaga dolorida
Que te põe a sofrer
Na mágoa que te alcança.
6 Alguém errou, furtando-te a esperança,
Mas ouve, alma querida,
A evolução é clara e definida:
A Terra, — nossa escola multimilenária, —
Foi criada por Deus para nos ensinar;
E todos nós, constantes aprendizes,
Temos faltas cruéis quanto acertos felizes…
7 Não te ocultes na névoa da tristeza;
O erro vem da própria Natureza;
Mas Deus também nos dá, sem conta e sem medida,
A força de amparar e corrigir a vida…
8 Pensa na gleba, inculta, arrasada a tratores,
Produzindo montões de frutos e de flores;
9 A enorme queda d’água é um abismo profundo,
Mas o homem que a sonda, observa e domina,
Dela triunfante extrai os poderes da usina
Que enriquecem de força o progresso do mundo;
10 A pedreira, a cair em processo violento,
Encaminhada à indústria é base do cimento;
11 E o manganês no solo, a impedir a verdura,
Trazido ao fogaréu, de pedaço a pedaço,
Faz-se a espinha dorsal das estruturas de aço…
12 Assim também, alma fraterna e boa,
Ergue-te e segue o bem, de espírito sereno!…
13 Desânimo é veneno.
Esquece todo mal, serve, ama e abençoa…
14 Não te canses de crer e de esperar.
15 A dor, em qualquer tempo, é a lúcida cartilha
Com que Deus nos revela a doce maravilha
De sofrer por amor na alegria de amar.
Maria Dolores
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