Liane Helena Anéas de Paula, morena, olhos castanhos, na escola primária despontava sua personalidade. Definia-se na liderança de suas amizades e crescia no conceito de seus mestres. O Instituto de Educação Canadá, ao findar-se os quatro anos letivos, diplomava esta criança que se encaminhava para a adolescência. No Colégio São José termina seu 1.º grau. No Colégio Salette, o colegial. Suas tendências levam-na a procurar outro Instituto de ensino. No Externato Rio Branco, em Rudge Ramos, encontra seu caminho. Inicia o curso Normal.
Liane deixa a Terra em 03.05.1982, em acidente automobilístico. Em seus pertences, desenhos e poemas desconhecidos aos pais, revelam a poetiza e pintora. Autêntica em suas ações, faziam de Liane a amiga e companheira ideal. Os amigos, quando de sua partida ao plano espiritual, homenagearam-na com um minuto de silêncio, na Discoteca Tuti-Frutti. Esta imagem de respeito demonstrou ainda mais o seu valor, quando a família, por repetidas vezes, em sua lápide, recolhera inúmeras cartas de pessoas desconhecidas e amigas, nas mais lindas e enternecedoras palavras.
Um pouco dos “De Paula”: Católicos praticantes, prosseguiam no roteiro de suas vidas a normalidade dos dias. Vida social controlada, família reunida, felicidade ancorada. Esta a conquista da família feliz.
O controle da vida, as diretrizes futuras não são propriedades de ninguém. De Deus emana o fechar das portas terrenas.
Para Lika, assim conhecida intimamente, as portas da Terra fecharam-se e as portas do Além abriram-se na continuidade da vida.
Para os “De Paula”, uma nova realidade. A vida com outro significado. Lika agora é o elo de nova visão.
O que antes era carinho, agora é certeza de um amor profundo. O que era sonho, hoje é a realidade de Deus.
O que a princípio era revolta, hoje é a aceitação de nova filosofia de vida. As disciplinas de Deus para o burilamento do espírito.
O que era sentimento liberto dos ideais, hoje é a união dos que provaram na dor, a grandeza de Deus a chamar seus filhos à razão.
Neste encontro, José Wair de Paula, após quase três anos de plena aceitação, admitiu que somente conseguiu completar a leitura da primeira mensagem de sua filha, após seis meses de recebida. Entendeu também que Lika é mais uma vanguardeira na colaboração dos que lá chegam.
Na fraternização dos ideais, os “De Paula” encontraram na família espírita a porta da amizade em que outros pais, outros filhos, outras esposas, esposos, fazem parte do caminho do reconhecimento, de que o amor está onde houver a necessidade da presença amiga, da mão que sustenta e do abraço que acalenta os que ainda estão na frieza do desengano.
ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS DE PESSOAS OU FATOS CONSTANTES NA MENSAGEM
Pais: José Wair de Paula e Neusa Aneas de Paula.
Irmão: José Wair de Paula Junior. (Jú)
Avós: Aparecida Anéas, materna. Bento de Paula, paterno.
Marcos Ferreira dos Santos: noivo de Liane. Márcia Marilda de Paula: prima. Alvimar Andrade Filho: primo de Marcos Ferreira dos Santos. Desencarnados juntos com Liane, no mesmo veículo.
Lika: Apelido carinhoso de família e amigos.
Sebastião e Marlene: pais de Marcos (Maurício, irmão de Marcos)
NOTA: Antecipamos os nomes de pessoas ou fatos, para melhor identificação por ocasião da leitura da mensagem do Espírito.
MENSAGEM
1 Querida mãezinha Neusa e querido papai, associo os dois ao nosso querido Jú, a fim de transmitir-lhes as minhas notícias. Minha impressão de assombro é aquela emoção que não nos sai da alma, porque o inexprimível está fora do dicionário.
2 Estou com a vó Cida e com o apoio dela vou seguindo, nas letras que efetivamente não são minhas, no entanto, representam a vestimenta verbal que me oferecem aqui de modo a falar-lhes, na tentativa de consolidar-lhes a paz.
3 Mãezinha Neusa, tudo corria bem, no que se refere à nossa curta viagem. Estávamos plenamente tranquilos. Marcos e eu conversávamos com a Márcia e com o Alvimar sobre o Dia das Mães que se aproximava no princípio de maio. Inventávamos situações felizes e mentalizávamos a preparação de presentes. Tudo era alegria, quando estourou sobre nós aquilo que me pareceu uma bomba. O resto é muito difícil de contar.
4 Os acidentados não dispõem de recursos para oferecer aos outros a versão da ocorrência infeliz em que se reconhecem surpreendidos e anulados.
5 De minha parte, quis fazer algo, estender mãos amigas aos companheiros e falar, mas o corpo me pareceu máquina obstruída, em todos os agentes da função que lhe é própria. 6 Senti-me vencida e transportada, mas não sabia para onde.
7 Guardava a noção de que estava em mim mesma e que poderia comunicar-me com os que me assistiam, entretanto, faltava-me tudo para expressar-me no lado externo da vida.
8 No íntimo, o raciocínio estava claro, vigiando… Ouvia palavras e lamentações discretas e sofria não só com as dores que me haviam quebrado, mas também com as picadas de agulhas e outros constrangimentos a que me vi sujeita.
9 Rezei. Rezei muitas vezes, pedindo a Deus me restituísse a existência, contudo, as horas passavam lentas e gradativamente cheguei a conclusão de que o próprio Deus desistia do impossível, porque o meu reerguimento seria impraticável. 10 Tentava reconstituir os pormenores do acidente, mas me encontrava no emaranhado das emoções contraditórias que passaram a me cansar a cabeça. Não se me fazia possível formular indagações.
11 Senti você, papai e Jú, perto de mim, hoje não sei se pelos pensamentos com que me cercavam ou se estava na realidade das ideias concretas, de vez que os chamados coquetéis tranquilizantes que me despejavam na garganta me tisnavam o cérebro. Foi um período muito amargo aquelas horas de expectativa… Não sabia nada e me propunha a adivinhar tudo.
12 Não sei quanto tempo perdurou aquele estado nebuloso, entretanto chegou um instante em que senti duas mãos acariciando-me o rosto. Não eram mãos comuns. Davam a impressão de luvas finas que me acalmavam. Aquelas mãos deviam calçar essas luvas que não conhecia. Pensei em medicação especial que me fosse ministrada.
13 O fenômeno acontecia independentemente de minha vontade. Em certo momento, eu que nada via senão as figuras de minha própria imaginação, enxerguei um rosto com um sorriso semelhante ao seu. A sensação de paz que me tomou o íntimo precedeu um sono pesado e suave que me separou dos nervos doloridos.
14 Ignorava que isso fosse a morte do corpo, no entanto, não era outra coisa aquele doce entorpecimento que me propiciava descanso. 15 Nada mais registrei senão que acordara em lugar diferente do nosso. O ambiente era balsamizante, sugerindo-me tranquilidade e alegria.
16 A dona do sorriso a que me reportei, surgiu aos meus olhos refeitos. Era a vovó Aparecida a me sossegar o espírito repentinamente excitado, perante a realidade. Não me sentia feliz, embora estivesse aliviada e agradecida, no entanto, quando a conversação esclarecedora da vovó ia em meio, chegou alguém que ela me apresentou com visível satisfação. Tratava-se do vovô Bento que eu não podia reconhecer.
17 O reconforto em que fui envolvida, foi uma bênção e inexplicavelmente passei a aceitar o que chamavam por Desígnios da Vida. Evidenciei a minha preocupação natural pelo Marcos e pelos amigos. Passavam bem, informaram-me.
18 Uma explosão de pranto me cobriu a face de lágrimas. Se pudesse, desejaria voltar, mas não conseguiria ilaquear as leis que nos governam. 19 Os afiguramentos foram, de tal modo explícitos, que a lógica me obrigava a silenciar. Quis vê-los em casa e fui até lá. Encontrei-a chorando e vi a nuvem de tristeza em que se mergulhavam o nosso querido Jú e meu pai. 20 Com todo o seu poder de persuasão a vovó Cida não conseguiu que as lágrimas me lavassem a alma. Desde então, venho procurando melhorar-me no íntimo, de maneira a me fazer útil.
21 Lutei contra as minhas próprias fraquezas e pude prestar algum pequeno auxílio ao Marcos, à Márcia e ao Alvimar. 22 Descobrindo que me seria possível agir em apoio de alguém, a luta se transformou aos meus olhos. Estou adquirindo recursos novos e peço-lhe, tanto quanto ao papai e ao querido irmão nos lembrarem sem mágoa. Mãe querida, rogo-lhe dizer isso mesmo aos nossos amigos Sr. Sebastião, à mãezinha Marlene e ao Maurício, a fim de que estejam tranquilos quanto ao Marcos.
23 Sei hoje que o organismo espiritual é que nos registra as impressões de vida. E continuo em meu tratamento de recuperação. 24 Se vocês puderem nos auxiliar com ideias de otimismo e fé positiva em Deus, isso representará um passo muito importante em nossas reações por aqui. Rogo-lhes a todos façam isso por nós. 25 Todos estamos submetidos às leis de Deus que estão em toda parte e peço-lhes para nos lembrarem na condição de pessoas vivas comuns. Assim conseguiremos a nossa recuperação, de mais perto.
26 Ajudem-nos para que possamos ajudá-los. As emoções daí a nosso respeito, para mim são cartas com endereço próprio. Prometo retribuir, logo melhorem as minhas condições. E não me esquecerei.
27 Por agora, saibamos que Deus é nosso Pai de infinita Bondade e só nos dá aquilo que conseguimos suportar. Sobretudo, peço em nome do Marcos e do meu que não se pese qualquer incriminação contra ninguém. Um acidente é um acidente e qualquer pessoa por aqui não ignora que ainda estamos restaurando as próprias forças.
28 Mãezinha Neusa, creio que lhes trouxe o relatório afetivo que me era possível. De outras vezes (quem sabe?) talvez eu conseguirei outra oportunidade. Vejo que isso pode acontecer e rejubilo-me na esperança de abraçá-los assim tão próximos de mim, embora não me sintam a presença.
29 Querida mamãe Neusa, agradeço ao seu carinho, ao papai e ao querido Jú, a paciência com que aceitaram os fatos. Essa busca de compreensão e serenidade para nós aqui, é um grande auxílio. Minhas lembranças a todos os nossos amigos. Não consigo escrever mais do que isto. Perdoem-me.
30 Papai querido e querida mamãe, muito agradeço por todas as lembranças e boas palavras com que me reconfortaram e ainda me animam tanto. Peço ao querido Jú para que se refaça e volte a ser otimista e alegre como sempre. 31 A vida não termina. Somos transferidos de residência e por dentro de nós somos os mesmos. 32 Queridos pais, estarei melhor em breve, a fim de comunicar-lhes paz e alegria. A vovó Cida e o meu avô Bento aqui comigo se fazem presentes no carinho que lhes endereçam e eu, a filha que lhes deve tanto amor, lhes deixo aqui, nas palavras que estou garatujando, um beijo molhado de lágrimas. Lágrimas de caridade, de ternura, de emoção e reconhecimento.
33 Recebam os dois todo o coração da filha sempre agradecida. Muitos abraços e lembranças da
Liane
DEPOIMENTO
A você meu caro e bondoso Francisco Cândido Xavier, que fez o Sol tornar a brilhar para nós, a paz e a esperança, aliarem-se no reconforto que a bênção de Deus nos enviou, através das mensagens de nossa filha e psicografadas por suas mãos benditas, receba em Jesus, os nossos agradecimentos eternos por estas mãos que haverão sempre de endereçar aos aflitos o lenitivo da verdade da vida futura.
Deus lhe pague!
Família De Paula
S. B. Campo 28-03-1985.
Rubens S. Germinhasi