1 Batuíra, o apóstolo do Espiritismo na capital paulista, instalara o seu grupo de estudo e caridade na Rua do Lavapés, quando numa reunião social foi abordado pelo Dr. Cesário Motta, grande médico e higienista, então Deputado Federal, com residência no Rio.
2 Conversa vai, conversa vem, disse-lhe o Dr. Cesário ao pé do ouvido:
— Você, meu amigo, precisa precaver-se. Não sou espírita, mas admiro-lhe a sinceridade. E tenho ouvido lamentáveis opiniões a seu respeito. 3 Dizem por aí que você adota o nome de médium para explorar a bolsa pública; que você está rico de tanto enganar incautos e dizem também que você se isola com mulheres, em gabinetes, para seduzi-las, em nome da prece. Tudo calúnias, bem sei…
4 — E que sugere o senhor? — Perguntou o amigo, sereno.
— É importante que você se abstenha do Espiritismo…
5 — Mas, doutor, — falou Batuíra, com humildade, — o senhor é médico e tem sido o nosso protetor na extinção da febre amarela e da varíola em São Paulo… Já vi o senhor tocar as feridas de muita gente… Enfermos para quem pedi seu amparo receberam a sua melhor atenção, embora vomitassem lama em forma de sangue… Nunca vi o senhor desanimar… Pelo fato de o senhor encontrar tanta podridão nos corpos, poderia desistir da medicina?
6 O Dr. Cesário sorriu, satisfeito, e falou:
— Sim, sim… Não seria possível… Você tem razão… Esquecia-me de que há podridão também nas almas…
7 E, batendo nos ombros do velho amigo, encerrou a questão, afirmando, alegre:
— Vamos continuar…
Hilário Silva
FIM