1 A senhora, elegantemente trajada, comparece na portaria do lar espírita para buscar a criança que pretendia adotar.
— Quero perfilhar! — Dizia a dama. — Tomarei todas as providências, mas quero escolher.
2 E a diretora começou as apresentações.
— Esta não, — falava a senhora, fitando doce menina de olhos escuros, — é morena demais.
3 E analisando uma por uma, continuava as apreciações:
— Esta não, tem jeito de serelepe…
— Este não, tem olhos de gato assustado…
— Este não, está remelento…
— Este também não, é um garoto de olhar muito frio…
— Esta não, é muito anêmica…
4 Findo o exame de trinta e dois pequeninos, a senhora perguntou:
— E os outros? Onde estará a criança que eu busco?
5 Mas a diretora respondeu, com serenidade:
— Minha irmã, a senhora me perdoe, mas o nosso estoque acabou, e creio que agirá com acerto se procurar a sua encomenda no Céu, pois, nas condições que deseja, penso que somente encontrará a sua criança entre os anjos…
Hilário Silva