1 Achava-se Agostinho Pereira de Souza, denodado batalhador da Doutrina Espírita, no Hospital “Pedro de Alcântara”, no Rio, atendendo a confrade que, por mais de duas horas, lhe tomava tempo.
Paciente, Agostinho escutava.
O amigo falava sem pausa, com a mímica de sonâmbulo. Relatórios verbais imensos. Projetos. Notícias. Petitórios.
2 Acordando, por fim, para a realidade, e reconhecendo que repetia observações, como disco estragado, disse para o ouvinte bondoso:
— Mas, afinal, Agostinho, como pode você dar conta de tanto trabalho? Estamos ouvindo enfermos gemendo… Decerto você tem muitos deveres e uma longa palestra come as horas… É muita gente a bater com a língua nos dentes! Como resolve o problema de tudo atender no minuto exato?
3 — Sim, não foi fácil, — replicou Agostinho, com evidente preocupação ante o serviço a fazer. — A princípio, lutei… Tomar tempo dos outros é falta de caridade, mas dizer que uma pessoa é maçante é falta de caridade também. 4 Mas, como tantos homens extremamente ocupados, tive igualmente de dar um jeito. O nosso hospital espírita é uma casa do povo. E a repartição que administra os interesses do povo é a Prefeitura. Sem ferir, assim, a verdade, combinei com um de meus companheiros uma providência que vem dando certo. Quando alguém me absorve o tempo, falando demais, ele vai a um telefone próximo e diz que o serviço da Prefeitura está chamando…
— Ótimo! — Exclamou o visitante, mostrando largo sorriso, sem se aperceber de que ele era um dos tais palradores inconscientes.
5 E já se dispunha a prolongar a conversa, quando o telefone tilintou.
Um servidor da instituição atendeu e, logo em seguida, voltou-se e avisou:
— Senhor Agostinho, o serviço da Prefeitura está chamando…
Hilário Silva