1 José do Espírito Santo, modesto espírita de Nilópolis, Estado do Rio, falava à porta do Centro, a pequeno grupo de amigos:
— Sim, meus irmãos, a caridade é a maior bênção.
2 Nisso, passam dois estudantes, ouvem breves trechos da palestra e avançam conversando:
— Você ouviu? Todo espírita é só “fachada”!
— Realmente. Fazem as coisas “para inglês ver”.
3 Logo depois, os rapazes deparam com infeliz mendigo. Pálido e doente. Sem paletó. Camisa em frangalhos. Pele à mostra.
A tiritar de frio, estende-lhes a mão magra.
Um dos estudantes dá-lhe alguns centavos.
4 Notam, então, que José do Espírito Santo vem vindo sozinho, pela rua. E um deles diz:
— Olhe! Lá vem o “tal”! Aposto que não dará nada a esse homem.
— Sim. Vamos ver. Afastemos um pouco, senão ele vai querer “fazer cartaz”.
5 Os dois jovens ficaram escondidos na esquina, um pouco adiante.
O pedinte roga auxílio.
6 José chega junto dele e o abraça, fraterno.
Em seguida, apalpa os bolsos e exclama:
— Infelizmente, meu amigo, estou sem um níquel…
7 Os jovens entreolham-se, rindo… Um deles recorda:
— Não lhe disse?…
8 O espírita condoeu-se, vendo a nudez do homem que tremia de frio. Deitou um olhar em torno para ver se estava sendo observado. Sentiu a rua deserta.
Num gesto espontâneo, tirou o paletó. Dependurou a peça num portão de residência próxima, arrancou a camisa felpuda e, seminu, vestiu-a no companheiro boquiaberto, mas encantado.
9 A seguir, após recobrir, à pressa, o busto nu com o paletó, disse com simplicidade:
— Meu amigo, é só isso que tenho hoje. Volte aqui mesmo amanhã.
E estugou o passo para a frente, enquanto o necessitado sorria, feliz.
10 No outro dia, os dois estudantes estavam no templo espírita, ouvindo a pregação.
Hilário Silva