1 Quando nos referimos a perdão, habitualmente mentalizamos o quadro clássico em que nos vemos à frente de supostos adversários, distribuindo magnanimidade e benemerência, qual se pudéssemos viver sem a tolerância alheia.
2 O assunto, porém, se espraia em ângulos diversos, notadamente naqueles que se reportam ao cotidiano.
3 Se não soubermos desculpar as faltas dos seres que amamos e se não pudermos ser desculpados pelos erros que cometemos diante deles, a existência em comum seria francamente impraticável, porquanto irritações e azedumes devidamente somados atingiriam quota suficiente para infligir a desencarnação prematura a qualquer pessoa.
4 Precisamos muito mais de perdão dentro de casa, que na arena social, e muito mais de apoio recíproco no ambiente em que somos chamados a servir, que nas avenidas rumorosas do mundo.
5 Em auxílio a nós mesmos, todos necessitamos cultivar compreensão e apoio construtivo, no amparo sistemático a familiares e vizinhos, chefes e subalternos, clientes e associados; 6 respeito constante à vida particular dos amigos íntimos, tolerância para os entes amados, com paciência e olvido diante de quaisquer ofensas que assaltem os corações. 7 Nada de aguardarmos sucessos calamitosos, dores públicas e humilhações na praça, a fim de aparecermos na posição de atores da benevolência dramatizada, apesar de nossa obrigação de fazer o bem e esquecer o mal, seja onde for.
8 Aprendamos a desculpar — mas a desculpar sinceramente, de coração e memória, — todas as alfinetadas e contratempos, aborrecimentos e desgostos, no círculo estreito de nossas relações pessoais, exercitando-nos em bondade real para sermos realmente bons. Tão somente assim, lograremos praticar o perdão que Jesus nos ensinou. 9 E se o Mestre nos recomendou perdoar setenta vezes sete aos nossos inimigos, quantas vezes deveremos perdoar aos amigos que nos entretecem a alegria de viver? 10 Decerto que o Senhor se fez omisso na questão, porque tanto nossos companheiros necessitam de nós, quanto nós necessitamos deles, e, por isso mesmo, de corações entrelaçados no caminho da vida, é imprescindível reconhecer que, entre os verdadeiros amigos, qualquer ocorrência será motivo para aprendermos, com segurança, a abençoar e entender, amar e auxiliar.
Emmanuel