O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Adeus solidão — Familiares diversos


15

Sérgio Luiz de Moura

Sérgio Luiz de Moura nasceu na capital paulista a 8 de julho de 1965.

Habilidoso, extrovertido, alegre, muito solícito, Serginho partiu para a Pátria Espiritual nas primeiras horas do domingo, 25 de janeiro de 1981, em Mongaguá, município de Itanhaém, litoral paulista. Contava 15 anos.

Os pais, Luiz Rocha e Maria Luíza de Moura Rocha e os irmãos, Tânia Maria e José Luiz, mergulharam em profundo abatimento de que começaram a emergir, a pouco e pouco, após os contatos com Chico Xavier que culminaram com a recepção da página mediúnica que lhes asserenou o espírito.

Segundo os genitores, a mensagem do Serginho faz parte de suas vidas. Do longo depoimento que guardamos em nossos arquivos, vale ressaltar, ainda, a seguinte passagem, envolvendo a cristalina mediunidade de Chico Xavier:

Quando os pais tiveram o contato inicial com o médium, Chico Xavier, sem qualquer entendimento anterior, disse a D. Maria Luíza:

“Como você está sofrendo, mas fique tranquila que o seu filho está bem.”

Surpresa, D. Luíza mostrou-lhe a foto do Serginho e o Chico, de imediato, obtemperou:

“Ele levou um tiro no coração, mas foi muito recente, não sendo possível receber uma sua mensagem assim tão cedo.”

Os pais se entreolharam surpresos, pois Chico Xavier de nada sabia, sequer os conhecia…

Voltaram mais duas vezes a Uberaba e na terceira viagem, 4 meses e meio após a desencarnação, Serginho trouxe-nos a carta que se segue.


MENSAGEM


1 Querido papai Luiz e querida mãezinha Iza, peço-lhes me abençoem.

2 Quero dizer mãezinha Iza e não Luíza, lembrando-me de que estamos tão necessitados de ternura em casa.

3 Queridos pais, ao que me parece, estou certo apenas de que era domingo. n

4 Ignorava que me achava nessa despedida estranha em que se dorme num lugar e se acorda em outro e que a pessoa deixa o corpo em que morava, assim como a lagarta se descarta do casulo para ser outro ser, embora continue com a mesma identidade.

5 A princípio, compreenderão que foi aquele desmaio de que ninguém se livra, quando se vê sob a sentença de despejo da forma em uso.

6 Um sono terrível. Sono de muitos tranquilizantes condensados. Lutei por não me apagar, mas tudo inútil.

7 Não sei o que sucedeu depois. Essa história da morte parece mágica de bruxas invisíveis. Digo isso, porque uma névoa estranha nos envolve de tal maneira que é impossível reagir.

8 Afinal despertei no recanto que me pareceu casa de saúde ou qualquer instituto congênere.

9 Muitas pessoas em torno, faces desconhecidas, gente de hospital acostumada a ver o sofrimento e que não se volta, a fim de acudir aos nossos chamados ou assim me pareceu de começo.

10 Demorei tempo enorme a aceitar tudo aquilo. Queria vê-los a qualquer preço. Por fim, foi a vovó Maria Luíza n uma espécie de fada benfazeja que se colocou a meu encontro e, com paciência e carinho de mãe, me explicou que a minha situação alcançara novo sentido.

11 Solicitou permissão para transportar-me até nosso ambiente e lá me fui.

12 Doeu-me ver o papai cismarento e a mamãe em lágrimas. Nada me adiantou o esforço para fazer-me visto e ouvido. A vovó me explicou que nos achávamos em outra faixa de vida; procurei a Tânia e o José Luiz, n nada consegui.

13 Então, foi o choro do menino contrariado, lágrimas que me rolavam dos olhos, depois de nascidas do coração.

14 A vovó e um amigo, que me recomendou chamá-lo por vovô Rocha, n me reconfortaram e, por vezes diversas, me avalizaram as voltas ao carinho da querida família e posso ver agora que as dificuldades para a recomposição da harmonia geral ficaram maiores.

15 Querida mamãe, venho pedir a sua bondade para que nos proteja sempre. O papai se mostra assim tão fatigado com os problemas do 1981 que estou sem coragem de me dirigir a ele, porque sei que, quanto me ocorre, o querido pai Luiz, também, está esmolando a sua paciência conosco.

16 Mamãe Iza, não me creia ausente. Estou a seu lado, buscando fortalecê-la, conquanto disponha de tão escassas energias para comunicar-lhe.

17 Perdoe-nos, por estarmos todos acabrunhados e abatidos. Aqui falo no plural, porque tomo a frente pelo papai e pelos irmãos queridos, a fim de reafirmar ao seu carinho que nós a amamos cada vez mais.

18 Pergunte à vó Benedita n se está certo ficarmos, por vezes, como se estivéssemos de mal uns com os outros.

19 Mãe querida, papai e nós estamos sofrendo ao vê-la cansada e triste. Não se canse de nós, mamãe querida, precisamos de sua proteção e de sua paciência. Olhe que o papai e nós somos as suas crianças. Abençoe-nos.

20 Se posso, desejo pedir ao seu querido coração desterrar para longe qualquer ideia de tristeza. Veja mãezinha, que o papai vive para nós somente.   21 A dor no coração dele é uma nuvem que ainda não conseguimos dissipar.

22 Ele pensa e repensa sobre a vida e esbarra sempre em seu Serginho, procurando explicação para o adeus imaginário que houve entre nós.   23 Entretanto, só as forças divinas, realmente, poderiam esclarecer a morte ou a desencarnação de alguém.

24 Aceitemos os acontecimentos como são e esperemos por Deus.

25 A maior parte daquilo que vemos no mundo é indevassável ao nosso raciocínio e, por isso, se não é justo que reclame de meu pai atitudes do coração que, sobretudo, existem no sentimento maternal, rogo à sua bondade acolher-nos, como sempre, tais quais somos e ajude-nos, auxiliando ao papai.

26 Querida mamãe Luíza, não posso escrever mais. A vovó e outros amigos, que me trouxeram, dizem que falei o bastante. Não sei. Queria pedir muito mais ainda…

27 Queria pedir o seu perdão, se seu filho regressa para endereçar-lhe tantas rogativas. Desculpe-me se fui menos feliz com tantas palavras de amor e de ansiedade. Quis falar-lhe do nosso amor e saiu isto aí. Perdoe-me.

28 Muitas lembranças aos irmãos e recebam, os dois, o coração reconhecido e saudoso do filho que continua vivendo, sobretudo, vivendo para vê-los, cada vez mais felizes.

Serginho

Sérgio Luiz de Moura

12.06.1981.


Caio Ramacciotti



[75] Serginho faleceu num domingo, nas primeiras horas do dia 25 de janeiro de 1981.

[76] Maria Luíza da Conceição, bisavó-materna, desencarnou aos 89 anos, a 26 de maio de 1951.

[77] Irmãos do Serginho, Tânia Maria e José Luiz de Moura Rocha.

[78] Vovô Rocha — Na ocasião, Chico Xavier disse ao pai do Serginho que o vovô Rocha, acima mencionado, se identificara, em espírito, como Antônio Rocha. Regressando a São Paulo, o Sr. Luiz, em vão buscou descobrir quem era Antônio Rocha, conseguindo fazê-lo, após insistentes buscas, ao manusear antiga certidão de nascimento do genitor em que constava o nome de Antônio Rocha, tataravô do Serginho.

[79] Avó materna, Benedita Dias de Moura.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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