O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Adeus solidão — Familiares diversos


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Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça

Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça nasceu em Volta Redonda, RJ, a 18 de setembro de 1965, desencarnando no Rio de Janeiro em 22 de novembro de 1980, com 15 anos.

Filho do engenheiro Aurílio Morais de Mendonça e da médica Edda Frankenfeld de Mendonça, Carlos Eduardo era criança de temperamento meigo e alegre, muito amigo dos colegas e devotado aos familiares.

Espírita, qual os pais, era dotado de singular religiosidade, mais evidente em seu último ano de vida.

Na semana de sua desencarnação falara aos pais sobre seu crescente desapego às coisas materiais, fato, aliás, confirmado na mensagem de Chico Xavier.

A carta mediúnica foi recebida onze meses após a partida do Carlos e, sobre ela, assim se manifestou o Dr. Aurílio e a Dra. Edda:


DEPOIMENTO


“Em 22 de outubro de 1981, recebemos a mensagem que tanto nos incentivou a continuar enfrentando os embates naturais da Vida.

A emoção e alegria que sentimos ao receber as notícias tão novas de informações e novas na esperança do nosso amado filho, através do lápis do querido médium Chico Xavier, são indescritíveis.

A mensagem foi, para todos os familiares em geral, uma embarcação salva-vidas, localizada, de repente, no mar revolto da vida. Para sua mãe em especial, que mais se ressentia da falta física do filho amado, foi o estímulo maior para a difícil readaptação à vida, após transe tão doloroso.”


MENSAGEM


1 Querida mamãe e querido papai, nossas preces estão reunidas, rogando aos Mensageiros de Jesus por nossa paz.

2 Conquanto esteja escrevendo a duas mãos, com outras mãos a me protegerem os movimentos, sinto-me em casa para endereçar-lhes minhas notícias, reafirmando os recados que já transmiti.

3 Compreendo, mãezinha, a lesão que sofremos. A desencarnação é uma espécie de cirurgia, especialmente em nossas forças psicológicas.

4 Julga-se que a liberação do corpo mais pesado significa emancipação plena; entretanto, a chamada “morte” não expressa qualquer supressão de laços do pensamento.

5 Escorados em papai, principalmente, estamos nós dois no processo de liberação espiritual, um do outro. 6 O seu coração pulsa no meu e as minhas ideias ganham curso em seu cérebro.   7 Não sei, ainda, onde termina a sua influência em mim, tanto quanto não ignoro que o seu entendimento ainda não consegue precisar onde acaba o influxo de minhas vibrações afetivas em seu mundo sentimental.

8 Já me fiz sentir através da estimada Marli n e das faculdades mediúnicas do papai: no entanto, solicitei esta chance de reiterar as minhas palavras, de modo a solicitar-lhes confiança em Deus e na vida.

9 Minha memória está nítida. Hoje, 22, assinala o mês que nos falta para completar-se um ano inteiro de saudades enormes.

10 Minhas recordações estão seguras. Adormeci, depois das preces habituais, com a intuição de que algo extraordinário estava para acontecer. Antes, havia falado aos pais queridos de minha fase de desligamento natural de todas as questões que me pudessem prender à existência física.

11 Aquilo não era uma fantasia de menino religioso. Lá dentro — dentro de meu íntimo chegara a certeza de que o meu tempo na estância terrestre estava a escoar-se. n O coração me contava toda a ocorrência próxima e não me enganei.

12 Dormi, como de hábito, e me senti num sonho de alta beleza. Sentia-me leve, respirando certo ar puro a que não me achava habituado, no cotidiano.

13 Muitos amigos me assistiam, ou, qual refletia naquela hora, devia eu estar assistindo a muitos amigos.

14 Conheci, para logo, o nosso querido amigo Dr. Bezerra e procurava adivinhar os nomes de outros amigos e benfeitores presentes, junto de mim.

15 Rearticulando as imagens que recolhera dos meus dias de atividade em nosso querido Grupo “Regeneração”, reconheci o Dr. Alcides de Castro n a cujo nome tanto me afeiçoara e um impulso natural me arrastou para o abraço ao Dr. Dias da Cruz n que reconheci, de imediato, guiado por uma inclinação irresistível.

16 Estava consciente e alegre. Entre as paredes de meu quarto havia uma festa de luz para a qual não me preparara.

17 Ansioso, embora tranquilo, se pudermos dizer que a paz coexiste com a inquietação, notei que uma senhora de semblante calmo e doce veio abraçar-me e disse com voz clara: Querido Carlos, você será bem-vindo ao lar dos Lauff! n

18 Estranhei o que ouvia, quando, perplexo, vi meu corpo repousando, à maneira de uma escultura de células que estivesse me esperando.

19 Recordei o regaço de mamãe Edda e o colo da vovó Júlia, n quando criança, e enlacei-me com a senhora cujo olhar me cativara com a ternura irradiante em que se expandia.

20 E fiz isso, porque ninguém naquela festa improvisada necessitaria explicar-me o acontecido. Minha ligação com a vida física terminara.

21 Não me situava num sonho. Identificava-me por dentro de uma realidade a que não me competia resistir. 22 Apesar de tanto socorro, no entanto, ao cientificar-me de que a minha própria desencarnação se completara, um abatimento difícil de explicar me dominou todas as forças.

23 Quis encaminhar-me para outros setores de casa, abraçar os pais e as irmãs queridas, mas o impacto daquela revelação me imobilizava e, recebendo passes de auxílio de amigos presentes, realmente entrei num torpor diferente do sono comum.

24 Soube, depois, que fui transportado para o lar-hospital do “Regeneração”, onde acordei, além de algum tempo cuja duração não consigo determinar.

25 Ainda assim, embora as minhas expectativas de menino desejoso de retorno ao campo doméstico, não me demorei a registrar-lhes as orações em meu auxílio. 26 Pude entrar em contato com todos de casa e agradeço o carinho das lembranças com que me reconfortavam.

27 Surpreendi os pais queridos e os avós, por vezes, chorando em separado, ao me lembrarem a viagem de volta à Espiritualidade e uni meus votos aos votos da família querida, porque, se pediam a Deus por minha paz, era minha obrigação rogar aos Céus pela tranquilidade dos meus entes queridos.

28 Temos vivido assim, nestes onze meses de união diferente, mas, tanto quanto procuram readaptação à vida física, busco de minha parte reaver a espontaneidade que me deve caracterizar em meu novo modelo de existência.

29 Agradeço ao papai Aurílio quanto faz por sustentar-nos firmes na fé em Deus e em nós mesmos e agradeço à mamãe Edda este clima de incessante amor em que nos entrelaçamos nos mesmos sentimentos, procurando ansiosamente a fórmula de amar-nos sem demasiado apego, a fim de que a nossa renovação se faça mais rapidamente.

30 Querida mamãe, nossa querida Scheilla, nossa querida Lívia e nossa querida Liliane n estão aí, requisitando-nos atenção e presença.

31 O vovô João n e a vovó Júlia, com os meus outros avós, permanecem ao nosso lado, esforçando-se por atenuar o rigor das saudades muitas e, com a bênção do Pai Celeste, com o carinho do papai Aurílio, venceremos as nossas dificuldades, cicatrizando as feridas da separação que remanescem da imensa dor de nos distanciarmos uns dos outros, por força dos Desígnios Divinos.

32 Sei que o seu coração deseja um filhinho e tudo será examinado com tempo e discernimento, mas, se puder aceitar-me um pedido, queria vê-la operosa na Homeopatia em auxílio às crianças. 33 O trabalho em semelhante seara de amor aos nossos irmãos pequeninos reconstituiria os nossos vínculos de presença constante.

34 Mamãe, estou em nossa família do “Regeneração”, mas, perdoe-me, se lhe disser que anseio trabalhar ao seu lado na Pediatria exclusivamente homeopática, a fim de servirmos a tantas crianças que precisam preservar a saúde e a própria normalidade da existência física, em nos referindo ao futuro.

35 O nosso caro amigo Dr. Bezerra já me disse que os pequeninos necessitados de apoio curativo são igualmente, não somente irmãos, mas também filhos de sua ternura materna, à maneira de rebentos do seu querido coração.

36 Não desejo estagnar meus estudos e justamente na Homeopatia é que reencontro campo mais propício ao desenvolvimento de minha nova fase de serviço.

37 A saudade é nossa, saudade que se nos fará bênção de alegria, quando estivermos junto à cabeceira dessa ou daquela criança doente, diligenciando o encontro de recursos para liberá-la de qualquer comprometimento com as medidas violentas que tantas vezes desfiguram as esperanças de uma vida simples e sã.

38 Converse com o papai a esse respeito. Não se sinta machucada ou inerte. 39 Nós ambos temos vivido, nestes onze meses, na clínica das orações de quantos se interessam por nossa felicidade.

40 As irmãs queridas se habilitam para o futuro próximo. O papai se orienta por diretrizes profissionais seguras e constantes, e nós dois podemos iniciar o trabalho socorrista aos nossos irmãos que se encontram na primeira fase do curso de experiências na Terra.

41 Nosso trabalho será uma estrela que, começando a brilhar na creche do “Regeneração”, se estenderá depois, criando-nos a alegria de plantar muita alegria para os outros.

42 Desculpe-me se penso nisso, mas reafirmo que os nossos ideais se interligam e o serviço ao próximo, no alcance daquilo que se nos faça possível, é a receita mais eficiente para a restauração definitiva de nossas forças.

43 Já que esta carta se alonga por demais, envio muitas lembranças às meninas, à vovó Júlia e ao vovô João e ao vovô Silvério com a vovó Maria. n

44 Quero dizer ao meu pai que tenho recebido muito auxílio de amigos espirituais que velaram por ele na infância, destacando o irmão Salustrino, o irmão Netto, o Padre Francisco de Paula Victor e o Dr. Augusto Silva n e desejo seja dito à vovó Júlia e ao vovô João que a vovó Maria Lauff tem sido aqui, em meu auxílio, outra mãe pelo coração.

45 Se eu pudesse queria que a felicidade fosse aqui uma árvore a agasalhar a todos. Meus agradecimentos à nossa querida irmã Leda e aos queridos irmãos Paulo e Rosinha n e aos irmãos outros que nos acompanham nesta noite de paz.

46 A família na vida espiritual se desdobra. Por isso temos conosco nestes minutos inesquecíveis, o tio Alcides, a tia Thereza, a tia Emília, a tia Therezinha, a tia Lili n e muitas outras criaturas benditas do nosso abençoado “Lar Regeneração”.

47 Estou muito sensibilizado para dizer “até depois”. Afinal, a gente nunca se separa.

48 Não será melhor afirmar “todos estamos juntos?”

49 Papai querido e querida mamãe Edda, vejam-me no amor com que os tenho incessantemente na memória e recebam juntos o coração inteirinho do filho que lhes deve tanto e que, através do amor que me dispensam, passará a dever-lhes muito mais.

50 Um beijo de respeitoso carinho e de muita gratidão do filho agradecido.

Carlos

Carlos Eduardo

22. 10.1981.


Caio Ramacciotti


[7] Abnegada amiga da família e, também, participante do Grupo Espírita Regeneração do Rio de Janeiro, tradicional e querida Instituição fundada pelo Dr. Bezerra de Menezes

[8] Tal fato nos foi confirmado pelos pais, através de carta em que revelam ter o filho assim se expressado na semana de sua partida.

[9] Dr. Alcides Neves Ribeiro de Castro, médico e, quando encarnado, dirigente do Grupo Espírita Regeneração.

[10] Ilustre médico homeopata, falecido no Rio de Janeiro na década de 30.

[11] Bisavó materna, Maria Lauff, falecida em 1970.

[12] Avó materna, Júlia Frankenfeld.

[13] Irmãs do Carlos Eduardo.

[14] Avô materno. João Frankenfeld.

[15] Avós maternos já citados e os avós paternos, Silvério de Oliveira Mendonça e Maria Alves de Morais.

[16] Benfeitores da região de Boa Esperança, sul de Minas, cidade onde nasceu o Dr. Aurílio.

[17] Filha de Emília Rodrigues, também co-autora espiritual deste livro. Leda Rocha é Presidente do Grupo Espírita Regeneração de que Paulo e Rosinha, lembrados por Carlos Eduardo, são também Diretores.

[18] Companheiros já desencarnados e muito ligados ao “Regeneração”.


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