FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
Depois de amistosos diálogos entre nós e vários companheiros, a reunião da noite foi iniciada. Havíamos conversado animadamente sobre os temas da atualidade. E o ponto que nos saiu para estudo foram os itens 2 e 3 do capítulo XXII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ( † ) em torno do casamento.
Companheiros interessados debateram o assunto dando várias nuanças ao matrimônio e aos deveres que lhe são consequentes. Diversos aspectos do tema foram analisados por irmãos e irmãs procedentes de cidades várias, sob os ângulos masculino e feminino.
Ao término de nossas tarefas o nosso caro Emmanuel escreveu a mensagem que intitulou União a Dois, desdobrando as opiniões expostas.
1 Lutas do casamento!… Provas do casamento!…
Quem disse, porém, que a concretização do matrimônio é felicidade estruturada a toques de figurino, não atingiu a realidade.
2 A união a dois, no culto da afinidade ou na execução de tarefas mais amplas da família, é um encargo honroso, qual sucede a tantas obrigações dignas. 3 Nem por isso deixa de ser trabalho por efetuar. 4 E trabalho tão importante que, não sendo possível a um coração apenas, foi preciso reunir dois para realizá-lo.
5 Quando um companheiro delibera empreender certa pesquisa, ou se outro abraça determinada profissão, não nos aventuramos a iludi-los com visões de felicidade imaginária. 6 Ao invés disso, reconhecemos que escolheram laborioso caminho de serviço em que lhes auguramos o êxito desejado.
7 De igual modo, o casamento não é construção sem bases, espécie de palácio feito sob medida para os moradores.
8 Entre os cônjuges é imperioso que um aprenda a compreender o outro, de maneira a desenvolver as qualidades nobres que o outro possua, transformando-lhe consequentemente as possíveis tendências menos felizes em aspirações à Vida Melhor.
9 Claramente, todos temos vinculações profundas, idiossincrasias, frustrações e dificuldades. 10 A reencarnação nos informa com segurança quanto a isso, indicando para que lado gravitamos em família, segundo os mecanismos da vida que a experiência terrestre nos induz a reajustar.
11 Em razão disso, todo par e toda organização doméstica revelam regiões nevrálgicas entretecidas de problemas que é preciso saber contornar ou penetrar, a fim de que o futuro nos traga as soluções da harmonia irreversível.
12 Se te encontras ao lado de alguém, sob regime de compromisso afetivo, não exijas de imediato a esse alguém a apresentação dos recursos de que ainda necessite para ser aos teus olhos a companhia perfeita que esperavas encontrar entre as paredes domésticas. 13 Nem queiras que esse alguém raciocine com os teus pensamentos, porquanto a ninguém é licito reclamar de outrem aquilo que ainda não consegue fazer.
14 Se não desejas receber nos próprios ombros a cabeça de quem abraçou contigo as responsabilidades da união a dois, é mais que natural não possas impor a própria cabeça aos ombros da criatura a quem prometeste carinho e dedicação.
15 Todos somos filhos de Deus.
16 O matrimônio é obrigação que os interessados assumem livremente e de que prestarão justa conta um ao outro. 17 Conquanto isso, o casamento não funde as pessoas que o integram. 18 Por isto mesmo a união a dois, além da complementação realizada, recorda a lavoura e a construção: cada cônjuge colhe o que plantou, tanto quanto dispõe do que fez.
Emmanuel
São duas as leis básicas do casamento, segundo a apreciação de Kardec, nos textos citados: ( † ) a lei material e divina de união sexual para reprodução da espécie e a lei moral e divina do amor para a evolução espiritual dos seres. Ambas são divinas, pois todas as leis da Natureza provém de Deus. Mas os homens, no abuso do seu livre arbítrio, deturpam a lei biológica de reprodução e fraudam ou confundem a lei de amor com os interesses inferiores da animalidade.
São essas atitudes negativas que criam as dificuldades, os dramas e as tragédias do matrimônio. Das duas leis básicas mencionadas por Kardec na ordem em que as obedecemos — primeiro a material e depois a moral — a que deve prevalecer é a segunda, pois a nossa essência é espiritual, a nossa natureza é moral e não material. Como damos prevalência à primeira, a lei de ação e reação, que determina os nossos destinos, aplica-nos os mecanismos da reparação que nos levam aos casamentos sacrificiais. Saber suportá-los é o meio de reparar os abusos do passado e predispor-nos às compensações futuras. Toda fuga à reparação devida constitui protelação de sacrifícios, pois as leis naturais se cumprem ao longo do tempo.
As responsabilidades do casamento não se referem apenas aos esposos, mas também aos filhos e familiares de lado a lado. Por isso o divórcio é permitido, como ensinou Jesus, ( † ) em virtude da dureza dos nossos corações, mas aqueles que puderem evitá-lo vencerão mais depressa na senda da evolução espiritual. A união a dois é sempre um encargo honroso, como acentua Emmanuel, ( † ) e feliz daquele que sabe mostrar-se digno desse encargo.
Irmão Saulo