O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A caminho da Luz — Emmanuel


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A Edificação Cristã

(Sumário)

1. Os primeiros cristãos.


1 Atingindo um período de nova compreensão, a respeito dos mais graves problemas da vida, a sociedade da época sentia de perto a insuficiência das escolas filosóficas conhecidas, no propósito de solucionar as suas grandes questões. 2 A ideia de uma justiça mais perfeita para as classes oprimidas tornara-se um assunto obsidente para as massas anônimas e sofredoras.

3 Em virtude dos seus postulados sublimes de fraternidade, a lição do Cristo representava o asilo de todos os desesperados e de todos os tristes. 4 As multidões dos aflitos pareciam ouvir aquela misericordiosa exortação: — “Vinde a mim, vós todos que sofreis e tendes fome de justiça e eu vos aliviarei” ( † ) — e da cruz chegava-lhes, ainda, o alento de uma esperança desconhecida.

5 A recordação dos exemplos do Mestre não se restringia às coletividades da Judeia, que lhe ouviram diretamente os ensinos imorredouros. Numerosos centuriões e cidadãos romanos conheceram pessoalmente os fatos culminantes das pregações do Salvador. 6 Em toda a Ásia Menor, na Grécia, na África e mesmo nas Gálias, como em Roma, falava-se d’Ele, da sua filosofia nova que abraçava todos os infelizes, cheia das claridades sacrossantas do reino de Deus e da sua justiça. 7 Sua doutrina de perdão e de amor trazia uma nova luz aos corações e os seus seguidores destacavam-se do ambiente corrupto do tempo, pela pureza, de costumes e por uma conduta retilínea e exemplar.

8 A princípio, as autoridades do Império não ligaram maior importância à doutrina nascente, mas, seus Apóstolos ensinavam que, com Jesus-Cristo, não mais poderia haver diferença entre os livres e os escravos, entre patrícios e plebeus, porque todos eram irmãos, filhos do mesmo Deus. 9 O patriciado não podia acompanhar com bons olhos semelhantes doutrinas. Os cristãos foram acusados de feiticeiros e heréticos, iniciando-se o martirológio com os primeiros editos de proscrição. 10 O Estado não permitia outras associações independentes, que não aquelas consideradas como cooperativas funerárias e, aproveitando essa exceção, os seguidores do Crucificado começaram os famosos movimentos das catacumbas.


2. A propagação do Cristianismo.


1 Na Judeia cresce, então, o número dos prosélitos da nova crença. O hino de esperanças da manjedoura e do calvário espalha nas almas um suave e eterno perfume. 2 É assim que os Apóstolos, cuja tarefa o Cristo abençoara com a sua misericórdia, conduzem as claridades da Boa Nova por toda a parte, repartindo o pão milagroso da fé com todos os famintos do coração.

3 A doutrina do Crucificado propaga-se com a rapidez de um relâmpago.

4 Fala-se dela, tanto em Roma como nas Gálias e no norte da África. Surgem os advogados e os detratores. 5 Os prosélitos mais eminentes buscam doutrinar, disseminando as suas ideias e interpretações. 6 As primeiras igrejas surgem ao pé de cada Apóstolo, ou de cada discípulo mais destacado e estudioso.

7 A centralização e a unidade do Império Romano facilitaram o deslocamento dos novos missionários, que podiam levar a sua palavra de fé ao mais obscuro recanto do globo, sem as exigências e os obstáculos das fronteiras.

8 Doutrina alguma alcançara no mundo semelhante posição, em face da preferência das massas. 9 É que o Divino Mestre selara com os exemplos as palavras de suas lições imorredouras.

10 Maior revolucionário de todas as épocas, não empunhou outra arma além daquelas que significam amor e tolerância, educação e aclaramento. 11 Condenou todas as hipocrisias, insurgiu-se contra todas as violências oficializadas, ensinando simultaneamente aos seus discípulos o amor indestrutível à ordem, ao trabalho e à paz construtiva. 12 É por essa razão que os Evangelhos constituem o livro da Humanidade, por excelência. Sua simplicidade e singeleza transparecem na tradução de todas as línguas da Terra, prendendo a alma dos homens entre as luzes do Céu, ao encanto suave de suas narrativas.


3. A redação dos textos definitivos.


1 Nesse tempo, quando a guerra formidável da crítica procurava atacar o edifício imortal da nova doutrina, os mensageiros do Cristo presidem à redação dos textos definitivos, com vistas ao futuro, não somente junto aos Apóstolos e seus discípulos, mas igualmente junto dos núcleos das tradições. 2 Os cristãos mais destacados trocam, entre si, cartas de alto valor doutrinário para as diversas igrejas. São mensagens de fraternidade e de amor, que a posteridade muita vez não pôde ou não quis compreender. 3 Muitas escolas literárias formaram-se nos últimos séculos, dentro da crítica histórica, para o estudo e elucidação desses documentos. 4 A palavra “apócrifo” generalizou-se como o espantalho de todo o mundo. Histórias numerosas foram escritas. Hipóteses incontáveis foram aventadas, mas os sábios materialistas, no estudo das ideias religiosas, não puderam sentir que a intuição está acima da razão e, ainda uma vez, falharam, em sua maioria, na exposição dos princípios e na apresentação das grandes figuras do Cristianismo.

5 A grandeza da doutrina não reside na circunstância do Evangelho ser de Marcos ou de Mateus, de Lucas ou de João; está na beleza imortal que se irradia de suas lições divinas, atravessando as idades e seduzindo os corações. 6 Não há vantagem nas longas discussões quanto à autenticidade de uma carta de Inácio de Antioquia  †  ou de Paulo de Tarso, quando o raciocínio absoluto não possui elementos para a prova concludente e necessária. 7 A opinião geral rodopiará em torno do crítico mais eminente, segundo as convenções. Todavia, a autoridade literária não poderá apresentar a equação matemática do assunto. 8 É que, portas a dentro do coração, só a essência deve prevalecer para as almas e, em se tratando das conquistas sublimadas da fé, a intuição tem de marchar à frente da razão, preludiando generosos e definitivos conhecimentos.


4. A missão de Paulo.


1 No trabalho de redação dos Evangelhos, que constituem, sem dúvida, o portentoso alicerce do Cristianismo, verificavam-se, nessa época, algumas dificuldades para que se lhes desse o precioso caráter universalista.

2 Todos os Apóstolos do Mestre haviam saído do teatro humilde de seus gloriosos ensinamentos; mas, se esses pescadores valorosos eram elevados Espíritos em missão, precisamos considerar que eles estavam muito longe da situação de espiritualidade do Mestre, sofrendo as influências do meio a que foram conduzidos. 3 Tão logo se verificou o regresso do Cordeiro às regiões da Luz, a comunidade cristã, de modo geral, começou a sofrer a influência do judaísmo, e quase todos os núcleos organizados da doutrina, pretenderam guardar uma feição aristocrática, em face das novas igrejas e associações que se fundavam nos mais diversos pontos do mundo.

4 É então que Jesus resolve chamar o Espírito luminoso e enérgico de Paulo de Tarso ao exercício de seu ministério. 5 Essa deliberação foi um acontecimento dos mais significativos na história do Cristianismo. 6 As ações e as epístolas de Paulo tornam-se um poderoso elemento de universalização da nova doutrina. 7 De cidade em cidade, de igreja em igreja, o convertido de Damasco, com o seu enorme prestígio, fala do Mestre, inflamando todos os corações. 8 A princípio, estabelece-se entre ele e os demais Apóstolos uma penosa situação de incompreensibilidade, mas sua influência providencial teve por fim evitar uma aristocracia injustificável dentro da comunidade cristã, nos seus tempos inesquecíveis de simplicidade e pureza.


5. O Apocalipse de João.


1 Alguns anos antes de terminar o primeiro século, após o advento da nova doutrina, já as forças espirituais operam uma análise da situação amargurosa do mundo, em face do porvir.

2 Sob a égide de Jesus, estabelecem novas linhas de progresso para a civilização, assinalando os traços iniciais dos países europeus dos tempos modernos. 3 Roma já não representa, então, para o Plano Invisível, senão um foco infeccioso que é preciso neutralizar ou remover. 4 Todas as dádivas do Alto haviam sido desprezadas pela cidade imperial, transformada num vesúvio de paixões e de esgotamentos.

5 O Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito de João, que ainda se encontrava preso nos liames da Terra, e o Apóstolo, atônito e aflito, lê a linguagem simbólica do Invisível.

6 Recomenda-lhe o Senhor que entregue os seus conhecimentos ao planeta como advertência a todas as nações e a todos os povos da Terra, e o velho Apóstolo de Patmos transmite aos seus discípulos as advertências extraordinárias do Apocalipse.

7 Todos os fatos posteriores à existência de João estão ali previstos. 8 É verdade que frequentemente a descrição apostólica penetra o terreno mais obscuro; vê-se que a sua expressão humana não pode copiar fielmente a expressão divina das suas visões de palpitante interesse para a história da Humanidade. 9 As guerras, as nações futuras, os tormentos porvindouros, o comercialismo, as lutas ideológicas da civilização ocidental, estão ali pormenorizadamente entrevistos. 10 E a figura mais dolorosa, ali relacionada, que ainda hoje se oferece à visão do mundo moderno, é bem aquela da igreja transviada de Roma, simbolizada na besta vestida de púrpura e embriagada com o sangue dos santos.


6. Identificação da besta apocalíptica.


1 Reza o Apocalipse que a besta poderia dizer grandezas e blasfêmias por 42 meses (XIII - 6 e 7), ( † ) acrescentando que o seu número era o 666 [Apocalipse XIII, 5 e 18]. 2 Examinando-se a importância dos símbolos naquela época e seguindo o rumo certo das interpretações, podemos tomar cada mês como sendo de 30 anos, em vez de 30 dias, obtendo, desse modo, um período de 1260 anos comuns, justamente o período compreendido entre 610 e 1870, da nossa era, quando o Papado se consolidava, após o seu surgimento, com o imperador Focas,  †  em 607, e o decreto da infalibilidade papal com Pio IX, em 1870, que assinalou a decadência e a ausência de autoridade do Vaticano, em face da evolução científica, filosófica e religiosa da Humanidade.

3 Quanto ao número 666, sem nos referirmos às interpretações com os números gregos, em seus valores, devemos recorrer aos algarismos romanos, em sua significação, n por serem mais divulgados e conhecidos, explicando que é o Sumo-Pontífice da igreja romana quem usa os títulos de “VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS”, “VICARIVS FILII DEI” e “DVX CLERI” que significam “Vigário-Geral de Deus na Terra”, “Vigário do Filho de Deus” e “Príncipe do Clero”. 3 Bastará ao estudioso um pequeno jogo de paciência, somando os algarismos romanos encontrados em cada título papal, a fim de encontrar a mesma equação de 666, em cada um deles.

Vê-se, pois, que o Apocalipse de João tem singular importância para os destinos da Humanidade terrestre.


7. O roteiro de luz e de amor.


1 Mas, voltemos aos nossos propósitos, cumprindo-nos reconhecer nos Evangelhos uma luz maravilhosa e divina, que o escoar incessante dos séculos só tem podido avivar e reacender. 2 É que eles guardam a súmula de todos os compêndios de paz e de verdade para a vida dos homens, constituindo o roteiro de luz e de amor, através do qual todas as almas podem ascender às luminosas montanhas da sabedoria dos Céus.


Emmanuel



[1] [Equivalência entre os algarismos romanos e os arábicos: I = 1, V = 5, X = 10, L = 50, C = 100, D = 500.
VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS — 5+1+100+1+5+50+1+500+1+1+1 = 666.
VICARIVS FILII DEI — 5+1+100+1+5+1+50+1+1+500+1 = 666.
DVX CLERI — 500+5+10+100+50+1 = 666.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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